
Não existe qualquer incompatibilidade entre os tratamentos baseados em medicamentos e a psicoterapia. Na verdade, os estudos mais recentes sobre o assunto demonstram que a conjugação dos dois tratamentos costuma ser mais eficaz do que a aplicação isolada de qualquer um deles.
Nas próximas páginas analisaremos os diferentes tipos de tratamentos utilizados atualmente e os dados quanto à sua eficácia. Estes variam de acordo com a gravidade dos sintomas depressivos em questão. Neste sentido, é importante distinguir a depressão propriamente dita da perturbação distímica (ou distimia), da qual falaremos adiante.
A depressão maior
Como mencionado no Capítulo 2, a depressão maior caracteriza-se por uma descompensação grave, tratando-se de uma crise profunda de humor triste e perda do interesse e prazer (anedonia). Neste caso, recomenda-se consultar primeiro, e o quanto antes, o clínico geral, para que este possa distinguir entre o diagnóstico de:
– Outra doença (câncer, hepatite, doenças da tireóide, diabetes, mononucleose, etc.), da qual a depressão possa ser uma conseqüência, ou seja, uma depressão secundária.
– Depressão pura (depressão primária).
Vale lembrar que, num episódio depressivo, o alarme dispara quando a pessoa apresenta quatro dos seguintes sintomas durante a maior parte do dia (e quase todos os dias), ao longo de pelo menos duas semanas:
- Humor deprimido de caráter intenso, duradouro, melancólico.
- Anedonia, ou seja, perda de interesse em tudo ou quase tudo, pelas atividades habituais em que antes sentia prazer (trabalho, lazer, sexo, etc.). [inverti a ordem pois o humor e a perda de interesse são os 2 sintomas + ip]
- Sentimentos de desesperança, descrença, fracasso, indignidade, de culpa excessiva ou inapropriada (sentimentos este que podem tornar-se delirante, sem nenhuma relação com a realidade).
– Redução da capacidade de concentração e raciocínio lógico (por exemplo, uma falta de decisão adequada).
– Insônia (mais usual) ou sonolência excessiva.
– Perda de energia, acompanhada de fadiga excessiva.
– Alteração de peso (normalmente, perda), sem que se esteja seguindo qualquer dieta.
– Agitação ou, pelo contrário, retardo psicomotor.
– Idéias de suicídio, com ou sem tentativas.
O médico clínico deve prontamente encaminhar o doente para ser tratado por um profissional especializado na área de saúde mental, preferencialmente o psiquiatra, que vai avaliá-lo e indicar o tratamento mais adequado conforme a gravidade do caso (farmacoterapia, psicoterapia, internação, tratamento combinado, etc.). Por vezes, quando o risco de suicídio é muito elevado, a hospitalização é, naturalmente, a solução mais adequada e a mais tranquilizadora para a família e para o médico, por proteger a vida do paciente. Mas, se não houver um risco preocupante de suicídio e não se tratando de transtorno bipolar grave com risco de suicídio, o melhor é evitar esse caminho. Porém, se a pessoa viver muito isolada, ou se já for idosa ou nos casos onde a família não tenha condições de tratar, talvez a internação seja a melhor opção. O aparecimento de complicações clínicas, como a desnutrição, a desidratação, entre outras, também justifica uma estadia no hospital.
Quando se opta por esta solução, é importante conseguir as melhores condições. A fórmula da hospitalização parcial, com uma internação a mais breve possível, é a solução mais eficaz para a maioria dos casos de depressão grave (exceto quando se trata de transtorno bipolar grave ou quando há sério risco de tentativa de suicídio).
A reinserção social deve ocorrer de forma progressiva e constituir um dos principais objetivos do tratamento. Entretanto, por vezes (embora cada vez menos freqüentemente), as hospitalizações são tão prolongadas que os pacientes acabam ficando dependentes da instituição.
Outro objetivo primordial, a ser perseguido pelo clínico geral (muitas vezes, o primeiro a diagnosticar a depressão), é conseguir que o doente aceite ajuda psicoterápica, que vai permiti-lo compreender o conteúdo da sua própria história e, assim, ter mais elementos para modificar os mecanismos responsáveis pela sua depressão.
Medicamentos antidepressivos
Nos casos de tratamentos ambulatoriais (dentro dos hospitais) ou em consultórios particulares aplicados fora do hospital, em que o paciente permanece no seu meio ambiente e nem sequer pensa na hipótese de o abandonar, o mais recomendável é que a pessoa se consulte com o clínico geral ou com o um psiquiatra, que provavelmente, irá receitar-lhe um antidepressivo, a medicação mais adequada para tratar um estado depressivo.
Estes medicamentos têm a particularidade de só começarem a atuar após duas a três semanas de uso (algumas vezes após 4 a 6 semanas), não se notando antes o seu efeito benéfico pleno. A exceção acontece em relação à ansiedade, que desaparece mais rapidamente. Pelo contrário, os desagradáveis efeitos colaterais de alguns medicamentos, como palpitações, boca seca, e sonolência, entre outros, podem surgir imediatamente e seu efeito pode durar até mais ou menos 10 a 15 dias e depois desaparecem. O doente deve ser informado de que os efeitos negativos costumam aparecer antes dos positivos, mas que, com a continuação da medicação, acabam, geralmente, desaparecendo. Muitas vezes, a pessoa protesta na hora de tomar um medicamento, achando que ela deveria ser capaz de ‘sair do buraco’ pelos seus próprios meios. Para ela, aceitar tomar um medicamento, é reconhecer e admitir perante ela mesma, à família e aos amigos, que está com depressão e que é incapaz de controlá-la. Daí poder surgir sentimentos de humilhação ou fraqueza psicológica (n mais comum nos homens o que nas mulheres) que poderão gerar resistência e até mesmo recusa em tomar o medicamento.
Além disso, existe uma grande desconfiança em relação aos medicamentos psiquiátricos. A pessoa com depressão, mais do que ninguém, tem medo de ficar dependente e estigmatizada. Ao associar mentalmente os antidepressivos a drogas, receia não conseguir viver mais sem os tomar, mesmo depois de estar curada. No entanto, contrariamente a alguns ansiolíticos e indutores do sono (dos quais se destaca atualmente o grupo dos benzodiazepínicos), os antidepressivos não criam dependência. Trata-se de medicamentos que xxx aumentam a disponibilidade dos neurotransmissores no SNC, cujo funcionamento deficiente constitui o mecanismo químico da depressão (veja o Capítulo3).
Os primeiros medicamentos realmente ativos para tratar as depressões foram descobertos apenas há cerca de cinqüenta anos (mais exatamente, em 1952). Curiosamente, foi por mera casualidade que alguns médicos notaram o efeito de euforia que a isoniazida produzia nos tuberculosos tratados com este fármaco. Mais tarde, diversos testes com doentes em depressão revelaram a eficácia deste agente químico no tratamento da mesma.
Obs: a isoniazida foi a substância usada para tratar a tuberculose e que viu-se que ela produzia efeito antidepressivo e foi aí, que mais tarde, à partir dela, surgiu a iproniazida, que foi o primeiro antidepressivo IMAO, surgido em 1952.
A história, quase simultânea à da iproniazida, do primeiro antidepressivo tricíclico (a imipramina) é semelhante: foi inicialmente utilizada como anti-histamínico (para o tratamento de alergias respiratórias) e verificou-se, mais tarde, ter bom efeito antidepressivo.
Antidepressivos tricíclicos
Dentro desta categoria de antidepressivos, existem atualmente perto de uma dezena de fórmulas químicas diferentes. A maioria possui um efeito sedativo e ansiolítico, mais ou menos intenso, o que é vantajoso nos casos de depressões agitadas, com um componente importante de ansiedade ou acompanhadas de insônia. Alguns também são úteis no tratamento de outros problemas, como crises de pânico, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno de ansiedade generalizada, fobia social, dor crônica, entre outros.
As doses de antidepressivos devem ser adaptadas a cada pessoa, em função, sobretudo, da gravidade da depressão e da sua reação ao medicamento. Em outras palavras, é impossível estabelecer comparações com outras pessoas que possam estar tomar o mesmo medicamento. Além disso, os antidepressivos com efeito sedativo devem ser ingeridos à noite, já que o medicamento também tem um efeito benéfico sobre a insônia.
Convém saber que os antidepressivos tricíclicos, como todos os medicamentos, não estão completamente isentos de efeitos colaterais. Os mais freqüentes são boca seca, prisão de ventre, dificuldade em focar a visão, visão borrada, tremores, suores, retenção urinária e hipotensão ortostática, que é a redução excessiva da pressão arterial ao adotar-se a posição vertical, o que provoca uma diminuição do fluxo sanguíneo ao cérebro e o conseqüente desmaio ou lipotímia. As bebidas alcoólicas potencializam o efeito sedativo dos tricíclicos, sendo conveniente evitá-las. O risco de acidente mortal, em caso de ingestão excessiva voluntária, é muito elevado. Por isso, quando se trata de uma pessoa com depressão grave, com idéias de suicídio, é importante vigiar de perto o consumo dos medicamentos ou o ideal é que o medicamento fique de posse da pessoa que for administrá-lo ao paciente (ou, em conjunto com o médico, optar por outro tipo de antidepressivo).
É recomendável que se tenha especial cuidado, sobretudo no caso de pessoas idosas, devido ao alto potencial risco de:
– Hipertensão ocular, estando, por isso, contra-indicados em pessoas com glaucoma.
– Retenção urinária (é preciso utilizá-los com precaução em caso de hipertrofia da próstata).
– Hipotensão ortostática e distúrbios do ritmo cardíaco, devendo ser utilizados com muito cuidado por doentes cardíacos.
Inibidores da monoaminoxidase (IMAO)
Estas substâncias, que inibem a monoaminoxidase (veja o Capítulo 3) de forma irreversível e não seletiva, foram muito utilizadas há alguns anos. São cada vez menos usadas devido aos efeitos colaterais e à complexidade da sua administração. Entre outros efeitos colaterais, interagem com alimentos ricos em tiramina, como queijos, vinhos, entre outros, podendo então provocar crises graves de hipertensão arterial. Além disso, os IMAO são perigosamente incompatíveis com outros medicamentos, como os que se utilizam para descongestionar as vias respiratórias. Por isso, se estiver fazendo uso deste tipo de medicamento, não tome qualquer outro sem antes consultar o seu médico. Entre os IMAO clássicos destaca-se a tranilcipromina (parnate, stelapar).
Inibidores seletivos reversíveis da MAO-A
Existem dois tipos de monoaminoxidase: a MAO-A, que decompõe principalmente a serotonina e a noradrenalina, e a MAO-B, que metaboliza a feniletilamina.
O problema de bloquear de forma total e irreversível as MAO A e B é que a tiramina presente nos alimentos não se decompõe. Um excesso dos níveis desta substância pode desencadear, como foi dito, uma subida potencialmente perigosa da pressão arterial. Neste sentido, os medicamentos inibidores seletivos reversíveis da MAO-A, por inibirem apenas esta enzima e serem reversíveis, têm a vantagem de apresentarem um risco menor de acidentes com alimentos que contêm tiramina (queijo, cerveja, vinho, peixes gordos, etc.).
Inibidores seletivos de recaptação da serotonina (ISRS)
Trata-se de fármacos de estrutura química diversa, mas que têm um mecanismo de ação comum: inibem de forma seletiva a recaptação de serotonina pelo neurônio pré-sináptico (veja o Capítulo 3). A eficácia destes antidepressivos é comparável à dos tricíclicos. Os mais conhecidos são a fluoxetina, o citalopram, o escitalopram, a fluvoxamina, a paroxetina e a sertralina. A sua grande vantagem é que, em geral, não apresenta efeitos cardiotóxicos (embora, mesmo assim, alguns efeitos colaterais, como náuseas e vômitos, sejam freqüentes). Por esta razão, este é o grupo de antidepressivos mais usado atualmente. De fato, alguns gozam de tal popularidade que vale a pena fazer esta referência: assim como qualquer outro antidepressivo, os ISRS devem ser prescritos por profissionais qualificados, sendo potencialmente perigosos quando usados de forma inadequada.
Outros antidepressivos
Existem diversos medicamentos antidepressivos, com diferentes mecanismos de ação, que não se enquadram nos grupos anteriores, como a mianserina, a trazodona, a venlafaxina, a mirtazapina, a bupropiona, ou a reboxetina (veja o quadro a seguir).
Não nos debruçaremos detalhadamente sobre estes fármacos. Cabe-nos simplesmente fazer a observação de que, atualmente, dispomos de um bom arsenal farmacológico para o tratamento da depressão e que a escolha do medicamento (feita sempre pelo médico) depende sobretudo das características, perfil de efeitos colaterais, da situação clínica do paciente – por exemplo, se tem outras doenças – e da sua tolerância individual.
Lítio
Apesar dos benefícios do lítio como antidepressivo serem conhecidos desde 1873, o seu mecanismo de ação ainda é bastante enigmático. Ele é útil no tratamento da depressão por reduzir a intensidade dos sintomas depressivos e sua duração, além de potencializar os efeitos dos antidepressivos. O lítio também tem um efeito preventivo contra as recaídas dos quadros depressivos, ds. tratando-se de um medicamento muito útil nos casos em que outros fármacos antidepressivos não têm sucesso. Esta substância está indicada também para o tratamento e profilaxia do transtorno do humor bipolar, sendo considerado o “padrão-ouro” para o tratamento do transtorno bipolar do humor, nas fases maníacas, episódios agudos.
O efeito do lítio é dose-dependente e suas concentrações plasmáticas devem ser monitoradas. No entanto, é preciso ter cuidado: o lítio é tóxico e a dose terapêutica aproxima-se muito da dose tóxica. Apenas com uma ligeira dose excessiva podem surgir imediatamente efeitos colaterais, como visão turva, perturbações gastrointestinais, fraqueza muscular ou sonolência. Nestes casos, é fundamental avisar o médico. Para maior controle, deve ser feita com regularidade uma análise da taxa de lítio no sangue (litemia), não só para determinar a dose mais indicada para a pessoa, mas também para evitar o risco de toxicidade (quando os níveis de lítio superam, mesmo que apenas por pouco, a dose terapêutica).
Eletroconvulsoterapia (ECT)
Este tipo de terapia, muito utilizada entre os anos 1930 e 1950, é hoje objeto de controvérsia entre alguns psiquiatras e, sobretudo, para o público, muito por culpa da imagem brutal que os meios de comunicação e alguns filmes transmitiram da mesma. De fato, da maneira como era realizada no passado, por vezes a eletroconvulsoterapia provocava luxações e fraturas, bem como perdas de memória. Mas, atualmente, as indicações para a sua utilização são muito precisas e os choques elétricos efetuam-se de forma muito cuidadosa, em salas de reanimação e sob anestesia e relaxamento muscular, para evitar possíveis danos.
O choque produz-se através de uma corrente elétrica de baixa intensidade (entre 0,1 Amperes e 220 Volts), aplicada de 0,3 a dois segundos. Os eletrodos são colocados sobre o lobo frontal dominante, o que diminui consideravelmente as eventuais perdas de memória. Um tratamento normal dura entre seis e 12 sessões, ao longo de duas ou quatro semanas, preferencialmente em dias intercalados. A eletroconvulsoterapia é o tratamento mais eficiente para as depressões graves e refratárias, em comparação com todas as outras modalidades terapêuticas, e é tão seguro quanto o tratamento farmacológico. Ainda assim, a aplicação desta terapia está limitada aos seguintes casos de depressão:
– Com um elevado risco de suicídio, o que justifica a urgência da intervenção.
– Em depressões psicóticas refratárias aos vv antidepressivos e, em particular, que sofram de at melancolia aguda acompanhada de delírio.
– Depressões graves em idosos que tolerem mal os efeitos colaterais dos antidepressivos.
- Depressões graves em gestantes onde não possa ser utilizado nenhum antidepressivo.
– Quando nenhuma medicação deu resultado no tratamento da depressão.
- Estupor depressivo catatônico
- Depressões graves com inanição.
O estado confusional e as perdas de memória que acompanham o tratamento são de curta duração e só se perdem as memórias dos acontecimentos mais próximos ao início da terapia (algumas semanas). Diversos estudos realizados em grande escala nos Estados Unidos, utilizando tomografias axiais computorizadas (TAC) e ressonâncias magnéticas, não revelaram transformações nem danos estruturais no cérebro.
Bem aplicada, em casos concretos, a eletroconvulsoterapia é eficaz e, a longo prazo, tem mais sucesso na redução de tentativas de suicídio do que outros tratamentos. Mas, na maioria dos casos, é preferível que a pessoa deprimida compreenda o significado da sua doença, conversando sobre ela com o seu terapeuta. Isso é impossível quando o tratamento prescrito é a eletroconvulsoterapia.
Higiene do Sono
Na realidade, este tipo de tratamento consiste numa reeducação do sono. Contrariamente ao que a lógica sugere, não se trata em absoluto de uma “cura de sono”. Pelo contrário, priva-se a pessoa depressiva do sono paradoxal ou REM (veja o Capítulo 3), pois, durante essa fase, é freqüente que o seu sono seja angustiante e perturbador, resultando também num sono pouco reparador. O paciente dorme com eletrodos colocados sobre o rosto, o que permite acompanhar a curva do sono e despertá-lo imediatamente antes de cada fase paradoxal.
Outro tipo de tratamento, freqüente nos Estados Unidos, opera em outra linha de reeducação do sono: trata-se da cura pela luz, na qual se instala a pessoa com depressão num quarto banhado por uma intensa luz artificial, privando-a do sono durante várias horas.
O tratamento da distimia
Também conhecida por humor distímico, caracteriza-se por um humor depressivo (tristeza, desânimo, choro, etc.) de longa duração (o diagnóstico implica uma persistência de, pelo menos, dois anos), mas sem chegar ao nível de gravidade da descompensação propriamente dita. Ao contrário do deprimido, cuja descompensação é visível, o distímico consegue ce levar uma vida (quase) normal. Sem dúvida, esta lhe parece cinzenta, absurda e triste, mas não chega a ser insuportável, como no caso da autêntica depressão. Mais uma vez, aconselha-se consultar sem demora o clínico geral ou um profissional da saúde mental (psiquiatra ou psicólogo), pois a qualidade de vida da pessoa fica bastante prejudicada ao longo da vida.
Soluções alternativas
Consiste em recorrer a medicamentos ou a terapias alternativas (por exemplo, tratamentos homeopáticos, fitoterapia, yoga, acupuntura, etc.). Esta solução é útil na medida em que alivia o humor depressivo e faz com que a pessoa possa estar disposta, mais tarde, a submeter-se a um tratamento mais profundo.
Ansiolíticos
Estes medicamentos diminuem a ansiedade, a angústia e a insônia. Porém, por si só, não têm qualquer efeito antidepressivo. Atualmente, receitam-se, sobretudo, ansiolíticos do grupo dos benzodiazepínicos. Estes, comparados aos barbitúricos (muito usados há alguns anos), têm a vantagem de apresentar menos riscos em caso de superdosagem ou abstinência (quando se deixa de tomar o medicamento).
Mas é preciso não esquecer que os ansiolíticos só atuam sobre os sintomas de caráter essencialmente emocional. Ao encobrir tais sintomas, podem impedir que se descubra uma doença subjacente, que não será tratada. Isto é freqüente nos casos de insônia ligada à depressão, por exemplo. As benzodiazepinas só são realmente eficazes para tratar a ansiedade neurótica ou patológica, que origina insônia na hora de adormecer (devido à ansiedade e não a de uma depressão), alguns estados de agitação e os estados depressivos característicos de um quadro de ansiedade crônica. Os benzodiazepínicos criam dependência e tolerância. Quando tomados durante um certo tempo, o seu efeito tende a diminuir, o que leva o doente a aumentar cada vez mais a dose para ter o mesmo efeito inicial. começando a depen
Esse efeito é conhecido como tolerância. É assim que costumam começar muitos dos consumos compulsivos relacionados aos benzodiazepínicos. Em caso de dependência física, é perigoso deixar de tomar de forma brusca, caso contrário, a pessoa sente-se muito mal . O melhor a fazer é ir diminuindo progressivamente as doses. A duração do efeito dos benzodiazepínicos varia muito: alguns são eliminados muito rapidamente, enquanto outros se degradam de forma mais lenta. Quando a dose ingerida não é bem calculada, o efeito sedativo é muito pronunciado e persiste mesmo no dia seguinte à ingestão do calmante. Isso pode ser perigoso se a pessoa tiver de dirigir ou realizar qualquer tipo de atividade que exija uma certa atenção. O efeito sedativo destes medicamentos é ainda maior quando são combinados com álcool: a falta de concentração e atenção diminui em igual proporção.
Tratamento homeopático
A homeopatia é uma terapia alternativa, baseada na chamada ‘lei das similitudes’: a mesma substância que provoca um determinado sintoma numa pessoa saudável produz o alívio desse mesmo sintoma numa pessoa doente (usada em doses extremamente reduzidas e, portanto, sem prejuízos à saúde). De um modo geral, o médico homeopata é sensível a tudo o que está relacionado com a predisposição da pessoa para a doença. Interessa-lhe mais o ‘terreno’ do que as manifestações da doença em si. Por vezes, a homeopatia produz bons resultados, mas é difícil afirmar se a eficácia é fruto dos medicamentos homeopáticos ou da vínculo que se estabelece com o médico, que faz com que a pessoa deprimida se sinta melhor.
Acupuntura
Espetar agulhas muito finas em certos pontos bem determinados do corpo estimula a liberação natural de endorfinas, substâncias cada vez mais bem conhecidas e que atuam diminuindo a dor e produzindo uma sensação de bem-estar. No entanto, a depressão não figura na lista de doenças e afecções, estabelecida pela Organização Mundial de Saúde, que podem ser tratadas de forma eficaz pela acupuntura. Porém, estão incluídas as dores de cabeça, úlceras ou dores lombares, que costumam acompanhar a depressão.
Fitoterapia
O uso terapêutico controlado de diversas plantas pode estimular as defesas naturais do organismo e, assim, impedir que a pessoa com tendência depressiva mergulhe num estado mais grave, evitando que tenha de recorrer a outro tipo de medicação.
Psicoterapia: solução ativa
Como dissemos no início deste capítulo, a solução ativa implica que o doente tome conta de si próprio com o apoio de um terapeuta. O papel deste último consiste em ajudar a pessoa deprimida a reconhecer o seu estado e a encontrar meios práticos para sair do mesmo.
Terapias individuais
Estas terapias estão especialmente indicadas no caso das distimias, embora também sejam muito importantes no tratamento de depressões graves. No entanto, neste caso, têm de ser combinadas com medicação antidepressiva. Aliás, nunca é demais lembrar que se pode seguir, ao mesmo tempo, um tratamento com antidepressivos e uma psicoterapia.
Existem muitos modelos psicoterapêuticos reconhecidos pela comunidade científica. Todos partilham algumas características fundamentais. Assim, por exemplo, todos implicam uma relação de confiança entre o psicoterapeuta e o paciente, quer em termos de objetivos a alcançar (que passam sempre por promover expectativas positivas e esperança no futuro, bem como sentimentos de sucesso e de autoconfiança), quer em termos dos meios para os alcançar. Não é esperado que o psicoterapeuta dê conselhos, mas antes, que ajude a repensar as dificuldades de uma forma sistemática e a encontrar novos comportamentos e formas de encarar as dificuldades da vida. As psicoterapias cognitivo-comportamentais e as psicoterapias interpessoais são, comprovadamente, as mais eficazes no tratamento da depressão. Vejamos a seguir as principais características das psicoterapias mais freqüentes.
Terapia cognitivo-comportamental
Parte da idéia de que, na base dos mecanismos depressivos, está uma distorção, uma forma errada de ler e observar o mundo, ou seja, uma ‘distorção do pensamento’. Entre a produção de um acontecimento e a reação da pessoa que o vive, está a interpretação que esta faz do mesmo. Na prática, o princípio de base deste tipo de psicoterapia é que não são os acontecimentos que realmente importam, mas sim a forma como as pessoas os interpretam. Por exemplo, se a pessoa tiver uma leitura pessimista de um determinado acontecimento, suas emoções e seus comportamentos tenderão a não facilitar a sua adaptação a esse acontecimento. Nestas circunstâncias, a pessoa sente-se incapaz, sem auto-estima, sem auto-confiança e independentemente do que aconteça, a situação não melhorará para ela (desesperança) e, assim, tenderá a sentir emoções negativas e distorcidas da realidade a cerca daquele fato.
Para mudar as tendências pessimistas, aconselha-se o seguinte:
– Primeiro, e de forma progressiva, ir devolvendo à pessoa deprimida o gosto pela ação.
– Depois, incutir-lhe confiança em si própria, através da valorização das suas respostas e do que, no jargão profissional, se denomina ‘reforço positivo’: um primeiro êxito incentiva a dar um segundo passo, e assim sucessivamente. Desta forma, pouco a pouco, vão surgindo novas maneiras de ‘ler’ a própria vida e elaborar outras respostas. Graças a essas novas formas de atuar e ao seu resultado positivo, as situações desdramatizam-se e as idéias pessimistas tendem a desaparecer espontaneamente.
O nome desta terapia resulta do fato dela visar:
– Uma reestruturação dos pensamentos e da forma de trabalhar a informação recebida no dia-a-dia (ou seja, as cognições). Procura-se alterar a perspectiva que a pessoa tem de si mesma e da sua situação, de forma mais adaptativa e funcional. Na prática, procura-se identificar crenças negativas e irracionais sobre o próprio, sobre o futuro e sobre os outros (familiares, amigos, colegas, chefes, etc.), substituindo-as por pensamentos mais positivos e realistas.
– Mudanças comportamentais. Inicialmente, a pessoa com depressão sente que não consegue fazer nada e que nada do que faz lhe é agradável. Esta percepção promove o isolamento social e a inércia, fazendo com que todos os dias pareçam iguais (pouco interessantes e sem grande atividade). Assim, o psicoterapeuta, em conjunto com a pessoa deprimida, planeja atividades que estruturem o dia, promovam momentos de prazer e façam a pessoa sentir-se capaz. Este tipo de terapia dá bons resultados em relativamente pouco tempo: após cerca de 15 a vinte sessões, uma hora por semana.
A Terapia Interpessoal
É uma terapia de curto prazo, reconhecidamente eficaz no tratamento da depressão, através de um modelo breve e focal, em média 12 sessões,i que relaciona os problemas afetivos da pessoa com os relacionamentos sociais, apontando que uma melhora na qualidade destes relacionamentos pode contribuir significativamente para a superação de tais problemas. Utiliza como instrumento a comunicação e o relacionamento sistematizado entre o terapeuta e seu paciente. Nesta forma de tratamento, o terapeuta procura fazer com que o paciente não só consiga identificar, entender e dar sentido aos seus conflitos, como também procura corrigir as distorções perceptivas que o paciente tem de si mesmo e do meio que o cerca, a fim de que ele melhore as suas relações interpessoais globalmente. Os terapeutas auxiliam os pacientes na resolução de tensões interpessoais que podem desencadear, manter ou agravar o episódio depressivo, através de exercícios treinados na sessão, como por exemplo o treinamento de habilidades sociais, e que deverão ser postos em prática ao longo da semana, para o desenvolvimento de suas competências interpessoais. Muitas vezes, o paciente necessita do apoio e incentivo dos familiares.
treinar) [praticar?] ao longo da semana, tenta-se melhorar as competências relacionais. [?] Neste sentido, espera-se que a pessoa passe a se comunicar mais eficazmente, a expressar suas emoções com mais facilidade e de forma mais apropriada e a ser mais assertiva, de modo a conseguir expressar melhor os seus desejos e direitos (respeitando os direitos dos outros) em situações sociais e de trabalho. Em casos de depressão, a terapia interpessoal procura ajudar as pessoas a lidarem melhor com os outros, reduzindo os conflitos e ganhando mais apoio, especialmente por parte da família e dos amigos.
Terapias não diretivas – Terapia de Carl Rogers
Uma premissa fundamental da teoria de Carl Rogers é o pressuposto de que as pessoas usam sua experiência para se definir, estabelecedo uma estrutura através da qual elas podem construir e modificar suas opiniões a respeito de si mesmas, a cada momento. O sujeito é, portanto, reenviado, constantemente, para dentro de si mesmo...
A Terapia não diretiva opta por uma escuta mais centrada na expressão dos sentimentos do cliente, que para se ter eficácia na relação terapêutica, é necessário que estejam presentes seis condições, que para Rogers, são fundamentais:
Primeira Condição –que o psicólogo parta do princípio que o cliente seja responsável por si próprio,
Segunda Condição – que o psicólogo parta do princípio de que o cliente tem uma forte tendência a tornar-se maduro, socialmente ajustado, independente e produtivo,
Terceira Condição – que o psicólogo crie uma atmosfera calorosa e permissiva, na qual o cliente seja livre para trazer qualquer atitude ou sentimento que quiser, não importando quão absurdo, não convencionais ou contraditórios sejam,
Quarta Condição – que os limites estabelecidos sejam simplesmente limites quanto ao comportamento e não limites quanto aos desejos.
Quinta Condição – que o terapeuta use procedimentos e técnicas que transmitam entendimento das atitudes expressas e sua aceitação delas. A aceitação do psicólogo não envolve aprovação, tão pouco desaprovação.
Sexta Condição – que o psicólogo se abstenha de perguntar, culpar, interpretar, aconselhar, sugerir, persuadir, etc.
A grande crítica à teoria de Rogers é feita pela “utopia” que ela implica, por ser idealista, romântica, “irrealizável” para seus críticos. Porém, na obra rogeriana são notáveis os seguintes aspectos: o desejo de mudança, a intenção de realização de algo concreto. Estas terapias têm a vantagem de valorizar a pessoa deprimida em todos os aspectos positivos que persistem nela, apesar dos aspectos mais deprimidos. Outras limitações da terapia provêm de uma análise insuficiente das inibições e defesas do sujeito. (se quiser q eu resuma – eu resumo, tá?)
Terapias de orientação analítica
Tal como na psicanálise (veja a seguir), estas terapias baseiam-se na análise de associações livres e da transferência. Entende-se por associações livres uma forma não dirigida ou induzida de ouvir, por parte do terapeuta, o que chamamos de “atenção flutuante”. Em virtude dessa falta de ‘direção’, é possível evocar uma idéia ou uma recordação que, por sua vez, atrai outras. Por exemplo, a palavra ‘colégio’ pode suscitar associações como: colégio-bons amigos-prazer ou colégio-más notas-repreensões-tristeza, e assim sucessivamente...
No que diz respeito à transferência, esta consiste na atitude do analisando em relação ao terapeuta, que pode reproduzir, de forma inconsciente, a sua relação com as figuras parentais. A análise desta transferência deve ser cuidadosa, já que algumas personalidades depressivas correm o risco de se descompensarem nesse momento. Efetivamente, toda análise muito apressada dos problemas não resolvidos, relativos à atitude afetiva da pessoa deprimida para com seus pais, ou figuras que as representem, representa o risco de que o seu narcisismo (a imagem positiva que cada um tem de si mesmo) caia por terra. Daí a necessidade de escolher um t-analista experiente. Em outras palavras, a transferência é o deslocamento do sentido atribuído à pessoas do passado para pessoas do nosso presente, e para a teoria freudiana, esse fenômeno é fundamental para o processo de cura e pode ocorrer em outras relações, como professor-aluno, médico-paciente, etc.
Em síntese, este tipo de terapia pode dar bons resultados e permite à pessoa deprimida reestruturar a sua personalidade. Pode durar algumas sessões, recebendo, neste caso, o nome de terapia breve de orientação psicanalítica, ou ter um número indeterminado de sessões – geralmente uma por semana –, durante um ou dois anos.
[não seria apenas ‘terapia breve’?- não, a terapia breve somente são teria escuta psicanalítica.
A psicanálise
É um método de investigação cujo objetivo é descobrir o significado inconsciente das palavras, dos símbolos, dos atos e das produções imaginárias, como os sonhos, as fantasias ou os delírios. A psicanálise procura as recordações do passado, as ausências e os traumas (recordações dolorosas do passado que, por causarem sofrimento, estão geralmente pouco elaboradas ou reprimidas). Quando uma pessoa sofre uma crise de depressão aguda, não é fácil suportar uma terapia analítica clássica. Normalmente, a considera muito frustrante e muito ansiogênica. Por isso, não é aconselhável começar com este tipo de psicoterapia nesse momento. É importante que a pessoa esteja suficientemente motivada para começar uma psicanálise, já que esta não só se estende por um período longo, como também exige um número mínimo de sessões por semana (em média de três a quatro sessões semanais, por três a cinco anos) e por isso costuma ser muito dispendiosa, não sendo acessível a todas as classes sociais, quando o tratamento for feito em consultórios particulares.
[Dra. Evelyn, achava legal a gente dar uma modificada nisso. Tentar mostrar que há atendimentos gratuitos e/ou a preços populares. Existe isso no Brasil, não é mesmo?]
De alguns anos para cá, já temos serviços especializados em Psicanálise disponibilizando o atendimento psicanalítico à população em nosso país, a preços acessíveis, podendo, assim, atender a todas as camadas sociais. Encontramos esse tipo de atendimento na maioria dos Hospitais Universitários e nas Clínicas Sociais das Sociedades de Psicanálise, ambos em todos os estados do país. (Vou ver lista de endereços)
Terapias de grupo
Inserem-se nas novas terapias, em contraste com as mais antigas, em particular, a psicanálise. Todas partilham um objetivo comum: oferecer um espaço importante à expressão emocional e à comunicação não-verbal. Em outras palavras, centram-se mais no comportamento do que no discurso. Dirigidas para o ‘aqui e agora’, estas terapias debruçam-se mais sobre a forma como as pessoas se relacionam no presente, do que sobre a evocação do seu passado e a reconstituição da sua história.
No caso das pessoas deprimidas, o grupo pode ser um elemento de apoio e ânimo, que ajude a pessoa com depressão a expor as suas dificuldades. Em numerosas situações, nas quais se encontram problemas de incapacidade de relacionamento, o grupo serve, de certo modo, como um espelho. Graças à imagem que é ‘refletida’, a pessoa pode tirar as suas próprias conclusões.
No entanto, estas terapias também têm inconvenientes, já que algumas pessoas desenvolvem uma autêntica dependência do grupo. Está comprovado que algumas personalidades, mais dependentes, sentem-se muito atraídas e ‘prendem-se’ a este tipo de grupo, utilizando-o como barreira para as suas tendências depressivas. Por isso, é preciso ter cuidado, tanto no que se refere à escolha do grupo e dos seus coordenadores, como à duração do tratamento. A dependência é sempre nefasta, pois faz com que o deprimido se imobilize numa atitude passiva. Ao invés de ir conquistando maturidade, adquire uma falsa estabilidade.
Terapia familiar sistêmica [precisa desse sistêmica?]sim, ela obedece regras distintas
No tratamento da depressão, esta terapia dá resultados surpreendentes, sobretudo quando é aplicada a famílias que atravessam um grave estado de crise, g bem como àquelas em que um ou vários filhos sofrem de perturbações psíquicas, que tornam a convivência difícil.
Esta terapia baseia-se em duas premissas:
– Na prática clínica, comprovou-se, com freqüência, que muitas famílias depositam todo o peso dos seus conflitos numa única pessoa, o doente identificado, no qual se centra toda a atenção (ele seria o “o porta-voz” da doença familiar). Este elemento da família é, por um lado, o sintoma da disfunção familiar e, por outro, o escudo que protege a família, para que esta possa conservar o seu equilíbrio atual e o status quo (forma de funcionar) e, desta forma, não tenha que mudar (isto porque mudar implica sempre sofrimento, pelo menos durante as fases de transição). Nesta perspectiva, não vale a pena tratar apenas o doente identificado, pois existe resistência para a melhoria deste por parte do resto da família. Dito de outra forma, muitas vezes, o trabalho terapêutico isolado com a pessoa deprimida pode ser boicotado pela família, pois as mudanças promovidas nela podem ameaçar a estabilidade de todos. Assim, por vezes é preciso partir do grupo natural em que o doente está integrado, ou seja, a sua família. Esta funciona como um sistema, uma unidade, com os seus próprios códigos e princípios (daí o nome de terapia sistêmica). Para obter resultados válidos, é necessário reunir a família o mais completamente possível. Ao intervir sobre o sistema, consegue-se que o indivíduo portador do sintoma fique livre da função homeostática (“equilíbrio instável”) (que garante o equilíbrio, o status quo da família) e possa seguir o seu processo de desenvolvimento. Para reduzir os sintomas negativos e induzir uma mudança positiva de atitude, tanto no conjunto familiar, como em cada membro individual, é necessário atuar sobre as relações e a comunicação que mantêm entre si. Não se trata de procurar o ‘porquê’ dos conflitos, mas o ‘como’, para que as relações entre os membros da família sejam mais satisfatórias. Este tipo de intervenção promove relações mais harmoniosas e, a partir destas, torna-se possível superar a crise.
Este tipo de terapia requer poucas sessões coletivas. Geralmente, é diretiva: o terapeuta propõe alterações de comportamento ou de atitude sob a forma de ‘receitas’ que a família tem de aplicar fora das sessões, na sua vida cotidiana.
Análise transacional
Este método, criado em 1954, nos Estados Unidos, por Eric Berne (1910-1970), apóia-se em dois pontos essenciais:
– O ‘eu’ [ou ego?] de um indivíduo é composto por três estados diferentes, que todos temos no nosso interior: o pai, que é fruto da interiorização das atitudes e regras dos pais e outras autoridades; o adulto, que se manifesta através de comportamentos autônomos, racionais e eficazes; e a criança, que se revela em atitudes ligadas ainda à primeira infância. Existe a criança adaptada, submetida à influência dos pais, e a criança natural, capaz de expressar de forma espontânea as suas necessidades, os seus impulsos e desejos. O objetivo da análise transacional é diagnosticar e fazer a pessoa reconhecer os diferentes estados do ‘eu’ que a influenciam. É que, se alguns facilitam a comunicação, outros a travam.
– A análise de jogos e guiões (“padrões”, “representação de papéis”, “inputs”, “marcas”). Os jogos funcionam como uma rede de transações (partilha de informação) com armadilhas, muitas vezes inconscientes, que servem para manipular o outro. O conjunto de jogos que uma pessoa repete ao longo da sua existência tem o nome de “guião”. Berne demonstrou que esse guião se elabora na primeira infância. É fruto de mensagens transmitidas pelos pais, quer de forma clara, como “você nunca será nada na vida” ou “essas coisas só acontecem a você”, quer implicitamente, sem verbalizar, o que as torna mais difíceis de entender. Um dos objetivos do trabalho da análise transacional é ajudar a pessoa a tomar consciência do seu “guião” pessoal, sobretudo se este é negativo, para que se possa compreender melhor as motivações subjacentes às suas atitudes e, assim, libertar-se dele (quando o mesmo é disfuncional).
Psicodrama
Criado e desenvolvido durante os anos 1930, entre Viena e Estados Unidos, por Jacobo L. Moreno, o psicodrama procura fazer com que o indivíduo, isolado devido a um processo de doença, volte a sentir-se integrado nos vários grupos naturais a que pertence: família, escola, trabalho, comunidade, amigos. O psicodrama recorre a jogos de representação de papéis, pequenas encenações teatrais espontâneas e improvisadas como técnica terapêutica. A improvisação oferece ao participante a liberdade de exprimir os seus sentimentos com mais facilidade do que no cotidiano, além de lhe permitir explorar os diferentes papéis que adota no seu comportamento habitual. Através das suas respostas, o grupo ajuda o participante a tomar consciência dos aspectos conflituosos e das contradições que o entorpecem.
A pessoa que decide ‘representar’ um dos seus problemas tem total liberdade para escolher tanto o guião(“roteiro didático”) como o papel que representará, e mesmo a distribuição de papéis pelos outros elementos do grupo. Desta forma, os problemas e conflitos são representados e vividos pelo grupo, mas também improvisados, já que os protagonistas do psicodrama são pessoas diferentes das que realmente viveram a situação. É precisamente da diferença entre a realidade e as opiniões do grupo que surge a reflexão e, a partir daí, o desejo de elaborar novos mecanismos de defesa, mais bem adaptados.
O psicodrama é uma terapia que não impõe qualquer obrigação e que facilita a aprendizagem de novos comportamentos e papéis mais satisfatórios para o deprimido, alterando o curso do seu distúrbio.
Terapia bioenergética
Elaborada durante a década de 1950, também nos Estados Unidos, pelo psicanalista Alexander Lowen, a terapia bioenergética baseia-se na observação de que as experiências do passado e os bloqueios afetivos não só se manifestam de forma psicológica, como também ficam inscritos no nosso corpo. Assim, é essencial passar pelo corpo para recuperar a própria história e fazer reviver as zonas dolorosas para desbloquear as inibições que aí ficaram gravadas. De acordo com Lowen, esta libertação das emoções reprimidas “liberta a energia”.
O trabalho pode realizar-se em grupo ou em sessões individuais. Normalmente, a sessão começa com um aquecimento. Depois, o trabalho individualiza-se e o terapeuta vai centrando a sua atenção em cada pessoa. A fase terapêutica evidencia as tensões e é seguida de uma fase emocional (choros, gritos, zangas), que desemboca finalmente numa fase de verbalização.
Terapia Gestalt
Esta terapia foi fundada nos Estados Unidos, por Friederick Perls (1893-1970). Gestalt significa ‘forma’, em alemão. Este tipo de terapia tenta abordar o sujeito no seu todo, no ‘aqui e agora’. Não se trata, portanto, de uma terapia analítica, mas de familiarizar a pessoa com o que sente no momento presente (e não com o que pensa ou pensou). Dirigido pelo terapeuta, o grupo procura incentivar cada um dos seus elementos a assumir os seus sentimentos. Além disso, utilizam-se métodos de externalização dos problemas, para dar outra perspectiva ao deprimido.
Terapia de casal
O objetivo desta terapia é melhorar a comunicação e, como conseqüência, a relação do casal. Quando a depressão parece ter como uma das suas causas prováveis um problema conjugal, é aconselhável recorrer à terapia de casal, já que esta pode ajudá-los a compreender melhor o que está se passando. Embora a sabedoria popular afirme que “o tempo cura tudo”, é raro que isso aconteça quando se trata de depressões. Nestes casos, o melhor é procurar ajuda o mais depressa possível, para evitar que o problema se agrave. São muitos os casais, mesmo jovens, que têm uma relação apática e frustrante, freqüentemente caracterizada por episódios de depressão (às vezes em um, às vezes no outro membro do casal), só porque não reagem a tempo.
Fator físico: solução ativa
É freqüente que o fator físico seja negligenciado no tratamento dos depressivos. Porém, a pessoa depressiva padece de dores físicas muito incômodas e reais. Infelizmente, quando se queixa, houve como respostas frases como “mas você não tem nada, está tudo na sua cabeça!”. Esta não é a realidade. Quando a depressão não é identificada a tempo, o sofrimento psicológico que a caracteriza é, em geral, acompanhado de diversas dores físicas, que podem se agravar rapidamente ou tornar-se crônicas (por exemplo, dores de estômago podem degenerar em úlcera). Alguns médicos centram-se exclusivamente em combater essa dor, através de medicação apropriada. Como é óbvio, é uma atitude adequada, mas incompleta. Outros, conscientes da necessidade de dar ao plano físico uma atenção mais duradoura do que simples medicação, aconselham os doentes a praticar esportes. Trata-se de um conselho inútil, uma vez que a pessoa com depressão, devido precisamente à sua crise, não tem energia nem vontade de fazer esforços físicos. Naturalmente, uma intervenção física é necessária. Contudo, para ser eficaz, deve responder a dois critérios prévios: levar em conta a energia que a pessoa consegue reunir e proporcionar-lhe prazer suficiente, para que esta tenha vontade de aplicar o seu corpo na sessão e continuar esse esforço de forma regular. Algumas técnicas cumprem ambas as condições e dão, de fato, ótimos resultados.
Massagens
As massagens mais recomendáveis são as clássicas, ou seja, as que proporcionam um alívio da tensão muscular e um relaxamento de todo o corpo, sendo fundamental procurar um profissional qualificado. Este tipo de massagem tem a vantagem de aceitar a passividade da pessoa deprimida, sem lhe pedir nada, pelo menos por um momento. Depois de relaxada, ela se sente melhor e, muitas vezes, fica com vontade de falar com o terapeuta sobre os seus problemas, o que pode contribuir para a cura.
Relaxamento
Existem muitas técnicas de relaxamento. Todas têm como objetivo um relaxamento geral mediante uma ação direta sobre o corpo. Estar relaxado é sentir-se bem, sentir que o corpo e a mente estão em sintonia. A maioria das técnicas de relaxamento exigem que a pessoa vá se concentrando em diferentes partes do corpo (pés, pernas, braços, abdômen, etc.) e que se abstraia do meio ambiente. Podem ser acompanhadas de frases de auto-sugestão como “estou relaxando, me sinto descansado”. Após algum tempo, a tensão nervosa e muscular suaviza-se e a pessoa entra numa espécie de transe, entre a vigília e o sono. Assim como nas massagens, se a relação que se estabelece entre a pessoa e o terapeuta for boa, pode ser muito benéfico. Para mais informações, veja o quadro ‘O relaxamento’, na página 118.
A atitude da família
Quando se suspeita que uma pessoa da família pode estar sofrendo de depressão, o primeiro passo que se deve dar é levá-la a um médico, como o clínico geral. Freqüentemente, as manifestações somáticas e psíquicas enganosas do depressivo impedem a família de perceber que está verdadeiramente doente. Os familiares nem sempre compreendem que a depressão implica um sofrimento autêntico e um sentimento profundo de tristeza e desesperança. Embora os sentimentos de culpa ou vergonha verbalizados pela pessoa deprimida lhes pareçam sem fundamento, é preciso que os encarem como reais. Por isso, não se deve pressionar muito o indivíduo com depressão. Por exemplo, o que a família considera uma agradável distração (uma visita, um jantar num restaurante ou um concerto) pode representar um esforço intolerável para quem sofre do problema. Uma mudança de ares, principalmente se envolver o gasto de muito dinheiro, pode ser um fracasso e só fará com que a pessoa se afunde ainda mais na depressão, aumentando o seu sentimento de culpa. Pelo contrário, uma vez superada a crise, uma viagem pode ser muito útil. Além disso, é muito importante ter em mente que, na maioria dos casos de depressão, a simpatia não é suficiente para ajudar a pessoa de forma eficaz. A família, mesmo a mais compreensiva, e os amigos com as melhores intenções nem sempre conseguem compreender o que se passa, já que estão envolvidos demais. Apesar de quererem ajudar, acabam por aconselhar segundo as suas próprias soluções, aquelas que lhes parecem evidentes e eficazes. Contudo, para a pessoa com depressão, são soluções impossíveis, porque não são suas e, além disso, lhe chegam muito cedo. No que se refere ao cônjuge, também convém saber que, se o companheiro sofre de depressão, pode experimentar uma séria redução do desejo sexual. É fundamental que o cônjuge evite dar muita importância ao fato ou interpretar como uma ausência de sentimentos afetivos e procure, na medida do possível, não provocar discussões por conta disso. Por vezes, o deprimido é simplesmente incapaz de apreciar, de se interessar por outras pessoas ou de responder ao amor destas. Mas não convém deixar de lhe oferecer ânimo e apoio, já que o doente não é inteiramente responsável pelo que lhe acontece. Além disso, por conservar intacta a sua lucidez, sofre demais. Nos casos em que o deprimido fala de suicídio, o mais sensato é abordar a questão de forma direta, ao invés de evitar tocar no assunto. Não é o fato de se falar na idéia de suicídio que a desperta – está sempre presente, subjacente. Todavia, convém afastar do alcance do doente tudo aquilo que possa incitá-lo a passar ao ato e, principalmente, permanecer atento, mesmo que ele se mostre mais tranqüilo e comunicativo. Esta serenidade enganosa pode, precisamente, ser o sinal de que decidiu finalmente passar à ação. Por último, a família deve saber que alguns antidepressivos podem provocar efeitos colaterais muito desagradáveis, como palpitações, boca seca, sonolência ou vertigens. Mas estes efeitos não se prolongam. Por isso, não se deve aconselhar o doente a deixar de tomar a medicação com o pretexto de que o fazem se sentir pior. Trata-se de medicamentos muito úteis, mas que requerem um controle médico regular. Algumas distrações propostas (mas nunca impostas) pela família, como a ida ao cinema ou ao teatro ou uma reunião na casa de amigos, podem produzir resultados positivos, já que contribuem para que o deprimido deixe de remoer seus assuntos. No campo das relações pessoais, convém que o cônjuge ou outros membros da família ou do grupo consultem um especialista sobre as causas desse mal-estar que também os afeta, para compreenderem a melhor forma de fazer frente à situação.
BOX 1
Os sintomas devem ser interpretados como sinais de alarme. Não se pode avaliar a gravidade de uma depressão apenas em função do grau aparente dos sintomas. Também é preciso levar em conta a personalidade do doente, as suas reações, o seu potencial e, em particular:
– A intensidade da sua ansiedade.
– O nível de eficácia das suas defesas.
– A força do impulso narcisista (isto é, de auto-estima mobilizadora para a melhoria) que ainda lhe resta.
BOX 2
O sintoma mais evidente e significativo da depressão é a ineficácia do pensamento. Este fica obscuro, ininteligível e o doente não consegue concentrar-se nem tomar decisões.
BOX 3
Se a hospitalização do doente deprimido for inevitável, deve-se tentar:
– Escolher um centro especializado para o tratamento de doentes com depressão.
– Planejar uma internação a mais breve possível.
– Não agravar a ruptura com as relações exteriores, ainda que estas sejam difíceis e não colaborem muito.
– Preparar com a maior antecedência possível a reinserção social da pessoa.
– Pedir ajuda psicoterapêutica, seja uma terapia individual ou em grupo.
BOX 4
Alguns antidepressivos têm efeitos colaterais sérios. Por isso, é importante:
– Utilizá-los apenas sob prescrição médica.
– Não ultrapassar as doses prescritas.
– Não deixar de os tomar sem indicação médica.
– Permanecer sob controle médico durante o tratamento.
No caso de se manifestarem efeitos colaterais, é conveniente avisar o médico o mais depressa possível. Em caso de superdosagem, não hesite em chamar o serviço de emergência de sua cidade.
BOX 5
Os benzodiazepínicos, utilizadas no tratamento de insônias e ansiedade, não são medicamentos inofensivos. Quanto aos efeitos colaterais, a sua tolerância varia conforme a pessoa, sendo os mais freqüentes, logo a partir do primeiro dia: prisão de ventre, sonolência, vômitos, fadiga, visão dupla e falta de coordenação motora. Algumas pessoas também podem aumentar de peso, devido ao estímulo do apetite. Também podem ser observadas, sobretudo em crianças e idosos, reações contraditórias, como excitação, inquietação, irritabilidade, ira, convulsões, etc. Por último, pode surgir alguma desconcentração. Se tiver de dirigir, tenha cuidado. Dependendo da dose administrada, os benzodiazepínicos criam, a longo prazo, uma forte dependência física e psíquica. Assim, deixar de tomá-las de repente pode provocar síndrome de abstinência.
Box 6
Onde e a quem recorrer?
[Dra. Evelyn, o que podemos escrever a respeito disso? Como funciona no Brasil?] Vou procurar saber
O Serviço Nacional de Saúde tem, actualmente, uma capacidade de resposta muito escassa e limitada para pessoas que precisem de uma psicoterapia, necessária em caso de depressão. Assim, na maioria dos casos, quem precisa de se submeter a uma psicoterapia não terá grande escolha senão recorrer a consultas privadas.
Em Portugal, à imagem do que acontece noutros países, como em Espanha e na Bélgica, não existe legislação que regulamente a prática da psicoterapia. Noutros países (por exemplo, em Itália e nos Estados Unidos), os psicoterapeutas são licenciados (psiquiatras, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, etc.) com uma pós-graduação em psicoterapia e alguns anos de prática supervisionada por um instituto ou associação de psicoterapia.
Os psiquiatras são médicos com uma formação específica para diagnosticar problemas do foro psiquiátrico e, sendo médicos, podem prescrever medicamentos. Para adquirirem competências de psicoterapia, têm de fazer uma pós-graduação específica.
Os psicólogos são profissionais licenciados em psicologia. Os psicólogos clínicos são os que optaram por esta variante do curso, mais direcionada para a terapia. Também necessitam de uma formação específica para adquirirem competências psicoterapêuticas.
A Associação Europeia de Psicoterapia (EAP) está neste momento a estabelecer critérios mínimos de formação (académica e profissional). Caberá, então, às autoridades nacionais, nomeadamente ao Ministério da Saúde, aplicar essas normas e fiscalizar os profissionais desta área, de forma a proteger os consumidores face a eventuais problemas.
Box 7
Ao invés de ‘empurrar’ o antidepressivo apressadamente, é preferível tentar encontrar com ele o motivo que o impede de atuar. Se, no decorrer deste tipo de diálogo, a pessoa deprimida for capaz de compreender, nem que seja só um pouco, o que a está travando ou lhe provocando medo, a ajuda não terá sido em vão. Caso contrário, aconselhe a consulta a um psicólogo ou psiquiatra competente na área de depressão.
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