domingo, 15 de fevereiro de 2009

DEPRESSÃO - GENÉTICA, GÊNERO, IDADE, ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO, MEDICAMENTOS, FATORES PSICOSSOCIAIS, ESTRESSE

Fatores de predisposição
Infelizmente, frases como “estou deprimido porque não encontro trabalho” ou “estou completamente acabado desde que a minha mulher morreu” são ouvidas com muita freqüência. Isso significa que, em geral, a depressão é atribuída, pela pessoa que dela sofre, a um acontecimento traumático (apesar de muito dificilmente um acontecimento traumático, por si só, seja a causa da depressão), que terá provocado uma reação emocional violenta e que, por isso, é considerado o ponto de partida da doença.
Contudo, certas depressões podem desenvolver-se sem que haja um acontecimento traumático identificável ou relacionar-se com um incidente pouco relevante. Trata-se, como já mencionado, das depressões endógenas. Nesses casos, é normal que a pessoa afetada estranhe o seu estado, já que não encontra qualquer motivo que o justifique: “Está tudo bem, eu não tenho razões de queixa, mase ainda assim não tenho vontade de fazer nada, me sinto sempre cansado, choro sem motivos e não consigo dormir bem.”
Mas pode acontecer que o fato causador da depressão não seja doloroso. Pelo contrário, Pode tratar-se de algo há muito tempo aguardado e que acaba por revelar-se uma decepção, gerando uma depressão subclínica, que a pessoa não tem coragem de mencionar.
Em contrapartida, certos indivíduos vivem experiências muito dolorosas, sem que por isso mergulhem em processos depressivos. Tudo isso nos leva a crer que existe uma vulnerabilidade particular, uma espécie de predisposição psicogenética, (onde os fatores genéticos são a herança familiar de defeitos em genes, o DNA, que podem ou não se manifestar durante a vida da pessoa). Só que,
Atualmente ainda não se conhecem as causas exatas que levam a uma depressão, estando apenas identificados alguns mecanismos biológicos, como desequilíbrios em neurotransmissores, principalmente a serotonina, noradrenalina e dopamina.
Sabemos que a depressão é uma doença multicausal, onde vários fatores contribuem para a sua instalação, sendo geralmente necessário mais de um fator para que o quadro se inicie. Os fatores ambientais são igualmente extremamente importantes, tais como maior carga de estresse, menor quantidade de sono, consumo maior de substâncias lícitas e ilícitas que interferem no humor, a competitividade e o sedentarismo, os fatores psicológicos, os problemas familiares e financeiros, entre outros, incluindo sexo e idade.

Mesmo assim, podem ser apontados fatores que a influenciam, dos quais se destacam, sobretudo, fatores biológicos, psicológicos e os relacionados com o uso de alguns medicamentos.
São ((eliminei os fatores biológicos por achar redundante, tem problema?ológica que podem influenciar o aparecimento da depressão, desde a predisposição genética a doenças, o sexo e a idade. Convém lembrar que

Herança genética
Existem numerosos estudos sobre a importância do fator genético na depressão, sendo a tanto, A maioria deles voltados para os Transtornos Bipolares do Humor. Quanto aos outros tipos de depressão, os dados genéticos ainda são escassos.
Estudos realizados com gêmeos que sofrem de transtorno bipolar revelam que, nos univitelinos (provenientes do mesmo óvulo, ou gêmeos verdadeiros), entre 50 e 100% dos casos, ambos apresentam a mesma doença. Já nos gêmeos bivitelinos (provenientes de óvulos diferentes – gêmeos falsos), observa-se uma significativa redução dessa porcentagem: apenas cerca de 25%. Diante disso, pode-se concluir que, de fato, existe um fator genético decisivo.
Estudos realizados em famílias de pessoas com transtorno bipolar avaliam o risco desta doença afetar outros familiares em 20%: em cada cinco pessoas da família, uma corre o risco de vir a sofrer de transtorno bipolar. Na população normal, a probabilidade diminui e situa-se entre 0,4 e 1,6%.

O sexo
No que diz respeito à prevalência da doença em função do sexo, as estatísticas são inequívocas: apenas cerca de um terço das depressões registradas afeta os homens. As restantes, sejam de que tipo forem, afetam as mulheres. Veja o porquê:

– Devido ao ciclo menstrual, a mulher está exposta a alterações de humor perfeitamente naturais. Imediatamente antes da menstruação, muitas mulheres experimentam reações depressivas, revelando agitação e nervosismo. Em algumas, o uso prolongado de contraceptivos orais também pode provocar o surgimento de sintomas depressivos. Neste caso, o remédio é fácil: basta mudar de método anticoncepcional.

– Depois de dar à luz, as descompensações são relativamente freqüentes: trata-se das chamadas depressões pós-parto. Estas se devem, não só ao desajuste hormonal que se produz após o parto, mas também a um estado generalizado de cansaço, principalmente nas mulheres que trabalharam até ao último momento da gravidez. Existe ainda um terceiro fator essencial: a dificuldade em assumir a maternidade. Quando se trata do primeiro filho, é preciso aprender a organizar o tempo em função das necessidades da criança, o que nem sempre é fácil. Além disso, a ‘intromissão’ do recém-nascido e a sua total dependência podem ser vistas como uma ameaça pelas mães incapazes de assumir imediatamente tamanha responsabilidade. E é preciso não esquecer que, durante a gravidez, a mulher é o centro de todas as atenções e, de repente, pode se ver relegada a segundo plano. É ainda possível que a mulher tenha tido uma relação complicada e ambivalente com a sua própria mãe. Por esse motivo, pode considerar o seu novo papel de mãe muito difícil ou mesmo rejeitá-lo inconscientemente, por medo de se transformar numa mãe com a qual não quer se parecer. Se, além de tudo isto, o marido não colaborar o suficiente, não se mostrar compreensivo ou revelar ciúmes pelo lugar que o recém-nascido ocupa na vida da mulher, não faltarão a ela motivos para cair numa depressão pós-parto. Este tipo de doença também pode ser originado por um aborto, voluntário ou não.

– Muitas mulheres sofrem de depressão na chegada da menopausa. Neste caso, os fatores físicos e os psicológicos estão intimamente relacionados: o mal-estar físico e as alterações do ciclo hormonal, o medo de envelhecer doente e muito depressa, a síndrome do ninho vazio, o medo de deixar de ser amada pelo seu companheiro, etc. Além disso, podem ocorrer ansiedade e dor durante as relações sexuais (dispareunia), provocadas pelo distúrbio hormonal que acontece nesta etapa da vida. Todos estes fatores fazem com que, ao entrar na menopausa, as mulheres passem por um período de grande insegurança, que pode desencadear uma depressão.

A idade
Tanto nos homens como nas mulheres, o diagnóstico de depressão acontece principalmente entre os quarenta e os 65 anos, na proporção já mencionada (aproximadamente um terço nos homens para dois terços nas mulheres). A partir desta idade, a diferença tende a acentuar-se ainda mais, em parte devido à maior esperança de vida entre as mulheres. E no caso da depressão no idoso, a proporção é de nove casos nas mulheres para apenas um nos homens.

A depressão nos idosos
Convém saber que os sintomas de depressão de uma pessoa idosa são ligeiramente diferentes dos que temos descrito até agora. O humor depressivo raramente se manifesta, escondendo-se sob numerosas queixas de tipo somático: cansaço, dor de cabeça, dor de estômago, etc. Normalmente, o idoso não confessa o seu estado de tristeza, desânimo e cansaço moral, nem sequer o admite quando vai ao médico.
A natureza cíclica destas queixas somáticas e o fato de se manifestarem sobretudo de manhã e melhorarem ao longo do dia, podendo até desaparecer, são indícios de que existe uma depressão.
Nos idosos, a agitação e os distúrbios do sono são mais evidentes do que a lentificação psicomotora [?] (lentidão na fala, no pensamento e nos movimentos), pelo que se torna mais fácil diagnosticar uma depressão em pacientes mais jovens. Além disso, sintomas como a perda de peso, a prisão de ventre ou acordar muito cedo, típicos da doença nos mais jovens, são pouco significativos no caso dos idosos.
Não raro, confunde-se depressão com demência, especialmente devido ao fato de que, por muitas vezes, o idoso com depressão pode ter dificuldades de memória, podendo ser confundidas como sintomas precoces de demência (pseudodemência). De fato, pode tratar-se de depressão, mas apenas se surgirem também outros sintomas, como um descuido exagerado com o aspecto físico e a higiene pessoal, a negligência das tarefas do dia-a-dia, a falta de iniciativa e o isolamento social. É, portanto, necessário saber distinguir as duas doenças.
Para simplificar um ‘diagnóstico’ caseiro, podemos dizer que há muitas possibilidades de estar na presença de uma depressão se:

– A pessoa já teve um ou mais episódios depressivos anteriormente.
– Queixa-se amargamente da sua perda de memória.
– Há contradição entre o que diz e o que faz. Por exemplo, há pessoas que se queixam de terem uma memória fraca ou de falta de concentração, mas conseguem contar uma história apresentando todo o tipo de detalhes.

Outra forma de distinguir a depressão da demência senil é que, na primeira, a expressão emocional da pessoa corresponde ao seu discurso verbal (por exemplo, a pessoa diz estar triste e chora) e, na segunda, é mais comum haver uma discrepância entre o que a pessoa diz e o que a sua expressão não-verbal mostra.

A depressão nas crianças
Algumas etapas do desenvolvimento da criança apresentam sinais típicos da depressão. Nestas, têm lugar diversas mudanças, tanto fisiológicas como psicológicas, as quais são normais e necessárias, mas não são de adaptação fácil para a criança. Existem três etapas principais no desenvolvimento infantil:

A angústia dos oito meses – Trata-se de uma reação de desagrado ou medo perante qualquer pessoa alheia à família. É uma reação normal, de intensidade variável. Na verdade, esta fase revela a capacidade recém-adquirida pela criança de distinguir a sua mãe (ou substituto) dos outros adultos. Reflete também a sua dificuldade em suportar a ausência da mãe.

As tendências depressivas durante a fase edipiana – Tal como explicamos no capítulo anterior, entre os três e cinco anos, a criança sente-se atraída pelo progenitor do sexo oposto. Mas a rivalidade que sente em relação ao outro a faz sentir-se culpada, o que pode levar a sentimentos depressivos, sobretudo se a criança teme que algum dos seus pais deixe de gostar dela. No caso das meninas, este conflito é ainda mais ambíguo, embora nem sempre seja evidente, já que a mãe representa para elas tanto a rival como o objeto de amor inicial. Estes sentimentos depressivos não são anormais, exprimindo apenas a dificuldade da criança em superar esta fase do desenvolvimento psíquico.

As idéias depressivas da adolescência – Muito comuns nesta fase de vida. Afinal, o adolescente encontra-se num momento em que tem de cortar uma série de laços e passar por diversas ‘mortes’ simbólicas. Paralelamente às alterações físicas e biológicas da puberdade, também tem lugar uma autêntica transformação psicológica, originada pela perda dos privilégios próprios da infância.

Paralelamente a estas etapas de mudança, durante as quais é normal acontecerem momentos pontuais de tristeza, algumas crianças podem sofrer episódios de depressão. Veja uma breve descrição dos mesmos, para que possa identificá-los a tempo:

A depressão no recém-nascido (até o primeiro ano de vida) – Observa-se, sobretudo, nos bebês que vivem em orfanatos ou que tiveram de ficar muito tempo sozinhos num hospital. As reações do recém-nascido com depressão costumam desenvolver-se ao longo de duas fases. Na primeira, o bebê mostra-se irritável e muito dependente, choraminga sem parar e exige a atenção constante do adulto. Durante a segunda fase, cerca de três meses depois, ele apresenta uma certa falta de expressão, tanto nos gestos como no olhar, quase como se estivesse em estado de choque ou de torpor. Este tipo de depressão é também freqüente nos recém-nascidos abandonados, negligenciados, maltratados ou profundamente frustrados por terem sido rejeitados pelos pais.

A depressão na criança (entre um e 12 anos) – O sintoma mais evidente é a tristeza e o humor depressivo. A criança chora com freqüência e, por vezes, sem razão aparente. Quando alguém lhe pergunta por que está nesse estado, a sua desorientação parece verdadeira e revela-se nas palavras, na voz, no olhar ou nos gestos. A criança não faz teatro para manipular o adulto: sente-se realmente triste e aflita. Esta tristeza é a expressão de um mal-estar interior. Nesta fase, a depressão pode manifestar-se de formas muito diversas:

– A criança fecha-se sobre si mesma e isola-se dos outros. Na escola, mantém-se quase sempre no seu próprio mundo. Porém, a família pode não perceber o problema, uma vez que a criança dedica-se com afinco aos trabalhos escolares. Como modo de compensação, muitas crianças se apegam a suas ocupações escolares, deixando a desejar em todo o resto. Mas também pode acontecer que, mesmo na escola, algumas crianças se encerrem no seu mundo e tenham problemas, não ouvindo e sendo incapazes de se concentrar. Em geral, estas crianças são alvo de muitas reprimendas e sentem-se extremamente sós e infelizes.
– O humor irritável ou o trato difícil (ser geniosa) também pode se desenvolver em vez do humor triste ou desanimado.
– A criança é hiperativa: não consegue ficar quieta nem calada. Também lhe custa muito se concentrar, o que prejudica os seus resultados na escola.
– A insônia é freqüente. Tem dificuldade em adormecer (não consegue deixar de pensar ou de sentir angústia) ou acorda durante a noite. Além disso, ocorre com freqüência a enurese noturna (urinar na cama).

A depressão no adolescente – Praticamente todos os adolescentes atravessam um período de melancolia. Mas não se deve confundir este período de dúvidas e instabilidades, durante o qual o adolescente tenta encontrar-se, com a depressão. Geralmente, no adolescente, a verdadeira depressão esconde-se por trás de uma série de sintomas físicos, como dores de cabeça, incômodos diversos e cansaço. Também ocorre uma vasta gama de comportamentos problemáticos, como fugir de casa, participar de atos de vandalismo, beber álcool ou experimentar drogas ilícitas. Todas estas ações impulsivas e provocadoras escondem um déficit de auto-estima, bem como um sentimento de impotência e de inutilidade. Porém, dada a rapidez com que mudam de humor, é freqüente que não recebam a devida atenção.
Quando ouve das pessoas frases como “você está numa idade difícil, isso passa com o tempo, seja paciente”, o adolescente não consegue sentir-se compreendido nem ajudado. O melhor é estimular o diálogo, para que o jovem possa se exprimir e, assim, ser capaz de descobrir quem quer ser. Mas isso não significa que os pais não continuem a defender as suas próprias opiniões. A atitude extrema dos pais mártires ou, pelo contrário, dos dominadores pode agravar os problemas do adolescente, já que lhe dificulta viver ou experimentar o que os psicólogos denominam de ‘experiência da diferença’ (isto é, uma tentativa de provarem a si mesmos que são autônomos).

Medicamentos
São vários os medicamentos que podem provocar ou agravar uma depressão. Entre eles:

– Psicotônicos ou psicoestimulantes, como as anfetaminas. Infelizmente, dado o seu efeito inibidor do apetite, por vezes ainda são utilizados em dietas. No uso ou após a parada destes medicamentos, é freqüente surgir uma depressão.
– estrogênios e progestogêneos. [seria progestógeno?] Em algumas mulheres, os contraceptivos orais podem provocar humores depressivos.
– Corticosteróides.
– Alguns medicamentos contra a hipertensão.
À esta lista, juntam-se algumas substâncias químicas, como, por exemplo, os derivados organofosforados (existentes em muitos pesticidas), o mercúrio, o cromo ou o chumbo. Um dos sintomas possíveis em caso de intoxicação por qualquer uma destas substâncias é a depressão.

Fatores psicossociais
Em geral, os fatores psicossociais que contribuem para o aparecimento de uma depressão estão relacionados a situações familiares, sociais ou profissionais difíceis e, não raras vezes, angustiantes, que a pessoa não consegue compreender ou assumir. As observações clínicas confirmam que a depressão associada a fatores psicossociais é, geralmente, antecedida por uma fase de estresse.

O estresse
Quando uma pessoa se vê, subitamente, sujeita a uma emoção, seja agradável ou não, desencadeia-se uma reação denominada estresse. Essa emoção pode ser fruto, por exemplo, de uma mudança no seu meio ambiente, a qual encara como uma ameaça. Assim, a resposta da pessoa é, ao mesmo tempo, uma reação de alarme e de defesa perante uma eventual agressão, que se manifesta física e psicologicamente.
Do ponto de vista físico, para poder reagir ativamente a uma ameaça, o organismo tem de ser capaz de mobilizar os seus recursos rapidamente. Isso é possível graças a duas classes de hormônios: as catecolaminas e os corticóides. Estes são segregados pelas glândulas supra-renais, que, como o nome indica, se situam acima dos rins. Entre as catecolaminas encontra-se a famosa adrenalina. Neste caso, a adrenalina desempenha um papel fundamental, estimulando a liberação dos açúcares armazenados no fígado e permitindo, desse modo, responder às necessidades de energia imediatas. Os corticóides entram em cena mais tarde, regularizando as defesas do organismo.
O estresse pode gerar diversos problemas físicos. Por exemplo, pode estar na origem de um aumento da pressão arterial. Através de um estudo realizado a partir da ficha clínica, muito detalhada, que uma grande empresa norte-americana mantinha dos seus trabalhadores, conseguiu comprovar-se que as suas doenças se manifestavam de forma agrupada no tempo. Durante alguns períodos, o estado de saúde dos trabalhadores era normal. Os pesquisadores chegaram à conclusão de que os episódios de doença coincidiam com períodos de estresse associado ao aumento do ritmo de trabalho.
Do ponto de vista psicológico, o estresse está associado à ansiedade. Porém, a percepção do agente estressante, ou estímulo, varia muito conforme a pessoa. Um mesmo acontecimento pode representar uma ameaça exterior para uma pessoa, enquanto que outra pode considerá-lo um desafio ou um pretexto para se superar. Curiosamente, o acontecimento pode até passar completamente despercebido para uma terceira pessoa.
Portanto, tudo depende da forma como cada um recebe e interpreta os fatos: há quem tenha uma boa capacidade de assimilação, talvez porque a sua saúde é boa e, no geral, se sente bem consigo mesmo; já outros têm um equilíbrio frágil, reagindo defensiva e intolerantemente de forma mais ou menos pronunciada. O esquema seguinte resume, em parte, o que acabamos de comentar. [aqui entra um quadro esquemático]

Assim, perante uma situação de ameaça, cada indivíduo apresenta uma seqüência emocional e comportamental própria, que depende:

– Do seu estado de saúde psíquica e física no momento.
– Das suas experiências.
– Da estrutura da sua personalidade.
– Do seu grau de integração social (e, conseqüentemente, do apoio que podem representar a família, os amigos ou as relações profissionais).

Algumas pessoas acostumam-se rapidamente a uma situação de estresse prolongado, enquanto outras nunca conseguem se adaptar. Qualquer primeira experiência (a primeira entrevista de emprego, entrar num grupo já estruturado ou o primeiro encontro amoroso) implica um estado de estresse. Contudo, quando a experiência se repete, a pessoa tende a aprender a adaptar as suas reações e vai se habituando a dosá-las progressivamente – logo, a controlá-las. Pelo contrário, as pessoas que estão, por um motivo ou outro, mais frágeis, continuam a reagir como se as experiências estivessem acontecendo pela primeira vez. Ao fim de algum tempo, mais ou menos prolongado e dependendo da resistência de cada um, produz-se um inevitável esgotamento físico e psíquico, que pode fazer com que o indivíduo se desmorone completamente.
De qualquer forma, um estresse muito intenso tem sempre conseqüências negativas e pode exigir a intervenção de profissionais da saúde.

A fadiga
É um sinal que faz parte de uma síndrome, ou seja, de um conjunto de sinais e sintomas. Essa síndrome pode ter uma causa imediata, como fadiga muscular ou esportiva ou estar associada a uma atividade em particular, podendo então ser considerada normal.
No entanto, a mesma síndrome pode aparecer sem que exista uma causa imediata. Neste caso, trata-se de astenia, o tipo de fadiga próprio da depressão.

Fadiga normal
O cansaço normal, de tipo muscular, apresenta três características básicas:

– É conseqüência do funcionamento dos músculos.
– Consiste numa redução da capacidade de contrair os músculos.
– Após um período de descanso, os músculos recuperam essa capacidade.

Em qualquer esforço muscular, o trabalho traduz-se numa perda de energia. Pelo contrário, o descanso permite recarregar as baterias. A fadiga intervém, precisamente, para limitar o gasto de energia e facilitar a recarga. Por isso, embora o cansaço possa parecer um fenômeno de fraqueza e de mal-estar, na realidade, é algo muito positivo. Uma situação frustrante ou de estresse pode assemelhar-se a uma perda de energia e, por isso, ser vivida e expressada em termos de fadiga – o que é normal, desde que a pessoa perceba que se trata de uma situação passageira. Descanso, férias ou uma mudança de ares costumam ser suficientes para remediar a situação.

Astenia ou fadiga anormal
Enquanto a fadiga normal é uma conseqüência lógica do trabalho ou da resolução de uma situação mais estressante, a astenia é uma fadiga anormal, sem causas imediatas. O que distingue a astenia da fadiga normal é que a primeira é desproporcional em relação ao fator que a provocou, não desaparecendo com o repouso e fazendo-se acompanhar de pensamentos negativos (humor depressivo, como a tristeza).
Habitualmente, este tipo de fadiga resulta de conflitos internos. Também pode ser o princípio de uma depressão, se bem que a diferença essencial entre a astenia e a depressão reside na perda de auto-estima que caracteriza a segunda e que, pelo contrário, não se observa na primeira.
Quando a astenia é acompanhada de distúrbios de sono, de memória e de concentração e não é tratada de imediato, pode agravar-se rapidamente. O doente adota então uma atitude negativa perante a vida e os que o rodeiam. No limite, convence-se de que não tem razões para viver.
Em algumas pessoas, a astenia anda de mãos dadas com obsessões hipocondríacas: uma preocupação constante com a saúde, que faz com que passem os dias à procura de sintomas físicos anormais, submetendo-se aos mais variados exames médicos para poderem ‘explicar’ os ditos sintomas. Freqüentemente, tudo isso é acompanhado da busca incessante de algum órgão doente ou deficiente que possa, de certo modo, justificar o seu humor.
Merece especial menção a chamada síndrome da fadiga crônica (também conhecida por fibromialgia), que consiste num estado de fadiga persistente, durante mais de seis meses, acompanhado de diversos sintomas físicos e psicológicos (como dores de cabeça, de garganta e musculares ou articulares, gânglios cervicais ou axilares dolorosos, diminuição da memória ou da concentração), cuja causa ainda não é conhecida. Para que seja diagnosticada a síndrome da fadiga crônica, é preciso que se excluam outras possíveis causas.

As situações de estresse
Podem ser agrupadas nas seguintes categorias, as quais serão descritas detalhadamente a seguir:

– Vida profissional, como as condições de trabalho (físicas, intelectuais ou econômicas) ou a perda do mesmo.
– Vida social, como uma mudança ou perda do status social.
– Vida pessoal, como a morte de um ente querido, uma doença, uma separação ou qualquer ruptura afetiva.
– Maus tratos físicos ou psicológicos, nos níveis pessoal, social ou profissional, que supõem uma ameaça extrema para o indivíduo.

A vida profissional
O exercício de uma profissão desempenha um papel de grande importância na vida, tanto para os homens como para as mulheres. O trabalho é, por norma, um fator de equilíbrio e, por vezes, também de satisfação.
Normalmente, são os empregados cujo nível de instrução é relativamente baixo e o trabalho pouco interessante que padecem de mais cansaço ou desânimo. Pelas mesmas razões, as depressões também são menos freqüentes nas mulheres casadas que têm um emprego do que nas donas de casa. O trabalho rotineiro, uma função de nível inferior às qualificações da pessoa, objetivos inatingíveis ou excesso de trabalho também são motivos de consulta médica, normalmente sob o pretexto de ‘cansaço’.
O estresse próprio do excesso de trabalho é freqüente nas pessoas que querem (ou se vêem obrigadas a) fazer muito em pouco tempo. É uma arte saber planificar os projetos, evitar afundar-se nos detalhes, delegar e trocar informações, sem que com isso tenha de perder tempo precioso em reuniões ociosas e deslocamentos inúteis. Se for preciso, não se deve ter receio de discutir o assunto com o chefe ou os companheiros, consultar livros ou revistas que abordem o tema, participar em seminários de formação, etc. No fundo, perder algum tempo preocupando-se com estas coisas acaba por, paradoxalmente, permitir ganhá-lo.
A impossibilidade de realizar um trabalho satisfatório ou de levar a cabo uma tarefa que foi solicitada também pode arrastar o indivíduo à depressão. Nestes casos, em geral, é difícil encontrar uma solução. Na verdade, nem sempre está nas nossas mãos poder mudar uma relação pouco saudável ou a natureza do trabalho. Uma das formas de reduzir este fator de estresse é compensá-lo com atividades esportivas ou sociais, onde possa dar vazão aos seus talentos e sentir-se apreciado. Se mesmo isso for impossível, talvez seja preferível tentar mudar de emprego.
Assumir novas responsabilidades representa sempre uma situação de estresse. É preciso adaptar-se a condições de trabalho até então desconhecidas, tomar decisões, talvez até trabalhar mais, mostrar que está à altura, reorientar as relações com os colegas e com os chefes. Isso não é fácil e, por vezes, uma profunda reflexão é fundamental. Para uma pessoa incapaz de rever suas atitudes, uma promoção pode parecer um desafio impossível e provocar um sentimento de estresse muito difícil de suportar.
Existem duas atitudes fundamentais a assumir na luta contra o ‘estresse da responsabilidade’:

– É preciso ter a coragem de recusar as missões ou promoções que superem o nível real de competência de cada um. Claro que, antes, seria necessário tentar conhecer exatamente o nível em que a pessoa se encontra, por exemplo, através de experiências anteriores ou debatendo o assunto com alguém de confiança. Contudo, é preciso perceber que, pelo menos nestes casos, querer não é poder. Convém fixar uma meta que corresponda às suas capacidades, mesmo que, deste modo, fique com a sensação de ter optado pelo caminho mais cômodo.
– Em caso de dúvida, o melhor a fazer é atrever-se e dar o passo. Mas deve procurar ter todas as cartas na mão, ou seja, informar-se seriamente sobre o trabalho que esperam que faça, estudando o melhor possível os princípios necessários para planejar as tarefas e delegá-las corretamente.

Outra causa de depressão é a síndrome de burnout. Este termo foi utilizado, originalmente, como referência ao desgaste profissional que sofrem os trabalhadores dos serviços públicos (saúde, ensino, administração pública, polícia, serviços sociais, etc.). A síndrome ocorre devido às condições de trabalho exigentes ou ao fato de o trabalhador, por estar enquadrado numa estrutura profissional insuficiente, ser incapaz de cumprir o que pensa serem as suas obrigações. Caracteriza-se pela redução ou perda de energia, esgotamento emocional, despersonalização (sentimentos de estranheza, de vazio interior, de indecisão quanto ao que fazer, de dúvidas sobre si mesmo), com desenvolvimento de atitudes negativas e de insensibilidade para com os usuários do serviço em questão, e baixo rendimento profissional.
Como causa de depressão relacionada à vida profissional pode ainda se falar de mobbing ou assédio moral no trabalho. Por este entende-se qualquer conduta abusiva e degradante que atente contra o bem-estar físico ou psicológico da pessoa ou que ponha em risco o seu emprego.
Normalmente, uma situação estressante no trabalho apresenta-se como uma sucessão de acontecimentos, por vezes até de detalhes, perante os quais a pessoa é incapaz de responder de forma adequada, seja porque não sabe o que fazer, por inibição (temor, angústia, etc.) ou, principalmente, por falta de consciência em relação à situação; seja porque, tendo optado por uma resposta, esta não é adequada ou aceitável para aqueles que a rodeiam.

A falta de trabalho
Diz a sabedoria popular que “a ociosidade é a mãe de todos os vícios”. O trabalho, porque afasta o tédio, evita uma possibilidade real de depressão. Além disso, uma ocupação profissional proporciona um contexto e uma integração social mais amplos, um reconhecimento do lugar que a pessoa ocupa no seio da comunidade e, como é óbvio, uma certa estabilidade econômica e uma estruturação do tempo no dia-a-dia. Todos estes fatores são imprescindíveis para um bom equilíbrio pessoal. Por isso, para muitas pessoas, o desemprego representa uma crise grave crise pessoal e social. Quando é fruto de uma redução de pessoal ou do encerramento da empresa, as conseqüências psicológicas não são tão graves. No entanto, quando o trabalhador é despedido por uma falha grave, pode ficar com um grande sentimento de culpa, acarretando um risco maior de surgirem manifestações depressivas.
Mas é sobretudo o medo de não conseguir voltar a encontrar emprego – o sentimento de inutilidade, originado pela inatividade profissional – e a falta de um status social muitas vezes considerado ‘mais digno’ que podem mais facilmente resultar em depressão. Isso acontece porque, em grande parte, a auto-estima é algo que se consolida com o trabalho. O desempregado (bem como, por vezes, o aposentado) vive então um sentimento de humilhação ou de fracasso.
A aposentadoria também pode provocar manifestações depressivas, principalmente quando a pessoa investiu muito ou se dedicou quase exclusivamente ao seu trabalho. De repente, lhe é difícil encontrar atividades com intensidade equivalente. Assim, convém ir preparando a aposentadoria gradualmente, dedicando-se a atividades intelectuais, como palestras e universidade para idosos, e físicas (caminhadas, ioga, ginástica, etc.). Além disso, a integração na família é primordial. Quanto à integração social, pode ajudar procurar uma ocupação, como o voluntariado, que seja benéfica tanto para o aposentado como para a sociedade.

A vida a dois: as crises
É importante relembrar que a vida de um casal evolui de uma forma muito própria. Em geral, começa como uma lua-de-mel, durante a qual cada parte dá o melhor de si e idealiza a sua visão do outro. Como diz o ditado, “o amor é cego”. De fato, a pessoa apaixonada não percebe os aspectos negativos do seu parceiro – este lhe parece perfeito.
Mas, com a trivialidade da vida cotidiana, a idealização vai desmoronando, revelando-se características do outro até então ‘ocultas’ e que, com freqüência, são decepcionantes. Quando o casal não consegue falar sobre estas mudanças na relação, pode instalar-se uma certa agressividade, mais ou menos direta, através de censuras e recriminações. Estas formas menos práticas de lidar com as mudanças normais na relação magoam e abrem feridas que demoram a cicatrizar.
Pode chegar então o isolamento, refugiando-se cada um no seu silêncio. A comunicação fica cada vez mais pobre e chega a ficar completamente bloqueada. Ao ver que a sua sobrevivência está em perigo, é normal que o casal, ou apenas um dos seus elementos, reaja com uma atitude depressiva, produzindo-se a crise.
Porém, é fundamental ter em conta que a crise de um casal não é só um processo negativo. Pelo contrário, trata-se de um processo dinâmico, útil e muito importante, não sendo necessariamente o ponto de partida para uma ruptura, mas podendo representar o início de uma maior capacidade de autonomia, tanto individualmente como para o casal. De fato, freqüentemente, as observações clínicas revelam que a crise, embora seja muito dolorosa no momento, permite que o casal reestruture a sua relação. Trata-se de um fenômeno normal, cujo mecanismo convém conhecer para se poder desdramatizá-lo quando acontece.
Antes de tudo, surge a decepção, fruto de uma falha real, suposta ou imaginada do objeto de amor (neste caso, o companheiro). Nem sempre se trata de um fenômeno objetivo, mas de um sentimento subjetivo muito pessoal: a realidade deixa de corresponder à imagem que o indivíduo tinha do outro. A desilusão que a pessoa sente é proporcional à força da idealização que existia do objeto de amor, protetor e tranqüilizador. Quanto maior tiver sido a idealização, mais dolorosa será também a decepção. É freqüente culpar o outro por não corresponder às expectativas que foram sendo criadas por quem fica desiludido. O membro do casal, nestas circunstâncias, pode também se defender e tentar se proteger da dor, caso seja necessário, negando a realidade.
Quando a decepção substitui a idealização, surge a crise. Esta, por muito negativa e penosa que possa ser em alguns aspectos, desempenha um papel importante, pois tende a reintroduzir na relação do casal uma certa ambivalência (compreendendo e aceitando de forma mais adequada as partes boas e ruins -“menos boas”- do outro), natural e necessária para o seu bom funcionamento e sua maturação.

Depois da crise
A crise do casal tende a se resolver de três formas diferentes:

– Em alguns casos, a agressividade mútua e o desinteresse dos dois membros do casal vão crescendo por falta de compreensão de ambas as partes e de medidas adequadas (o diálogo e a escuta atenta do outro). Pouco a pouco, chega-se, por vezes de forma brutal, ao término da relação.
– Também se pode observar, no seio do casal, uma série de reações pós-crise, cujo principal objetivo é eliminar qualquer possibilidade de um novo conflito. Geralmente, a vida em comum reorganiza-se em torno dos filhos e as preocupações passam a se centrar nas dificuldades deles. Os membros do casal também podem se aproveitar do filho, utilizando-o como ‘saco de pancada’ para descarregar a hostilidade que existe entre eles, mas que não se atrevem a exprimir em voz alta. Nestes casos, sem perceberem, os parceiros se protegem e evitam se atacar, utilizando inconscientemente o filho para manter o laço que os une. Como é evidente, este comportamento provoca graves distúrbios, quer no casal quer na criança. Em muitos casos, é aconselhável terapia familiar ou conjugal, para esclarecer e renovar as formas de comunicação entre o casal, bem como para ajudar a criança. Esta é extremamente sensível às contradições entre os pais, sobretudo quando se escondem por trás de um falso bom entendimento, que faz com que as mensagens se tornem ainda mais contraditórias para a criança.
– Existem ainda alguns casais que renovam laços mais realistas depois do sofrimento e da reestruturação a que tiveram de se submeter durante o período de crise. Assim, conseguem uma nova aprendizagem das relações, graças a uma melhor comunicação entre os parceiros. Em muitos casais, esta melhoria é espontânea, enquanto em outros é preciso alguma ajuda externa.

Apesar de tudo isto, é preciso estar consciente de que a vida a dois é uma alternância entre fases construtivas e fases críticas que, por sua vez, são seguidas de uma renovação espontânea da comunicação e de uma recuperação da atração recíproca. Este não é um ponto de vista meramente otimista, correspondendo não só a conclusões clínicas obtidas ao longo de numerosas terapias matrimoniais, mas também à lógica da vida.
Quando se produz uma crise no casal, a reação ou a resposta de depressão é, pelo contrário, uma reação de abandono da luta consigo mesmo e com o outro, uma reação de impotência e de desespero. A pessoa deprimida convence-se de que não há saída alguma para a situação em que se encontra – o que não corresponde à verdade. Quando o casal consegue desdramatizar a crise e encontra outras formas de comunicação, a situação vai melhorando progressivamente e as manifestações depressivas vão sendo cada vez mais raras.
Há uma premissa essencial para que uma relação entre um casal possa funcionar. Antes de se comprometer com alguém, é importante que cada um seja capaz de viver apenas consigo mesmo. Isso não significa que o outro, os filhos e a vida familiar não sejam uma parte importante da sua vida. Mas é muito arriscado jogar todas as esperanças de felicidade, êxito e equilíbrio pessoais exclusivamente na relação a dois.

Os maus tratos
Os maus tratos físicos e psicológicos aparecem como uma das situações mais graves que podem acontecer na vida conjugal, levando a uma ruptura dos laços familiares básicos. A família constitui-se com o propósito de apoiar e proteger os seus membros, permitindo que os filhos cresçam num ambiente seguro. Quando se utiliza o castigo físico ou psicológico como forma de controle, especialmente quando é dirigido aos menores, todo este equilíbrio é perturbado. Pessoas violentas apresentam graves dificuldades na expressão verbal de emoções e sentimentos.
A violência física deixa marcas no corpo que são facilmente identificáveis. Mas qualquer tipo de violência (física ou psicológica) deixa marcas psicológicas, muito mais insidiosas e difíceis de avaliar. Entre os danos possíveis encontra-se a depressão. A vítima de maus tratos pode chegar a sentir que algo em si não está bem ou sentir-se culpada pela situação. Como conseqüência, surgem sentimentos de incapacidade, inutilidade, descrédito pelo seu valor como indivíduo e tudo o que já foi descrito anteriormente em relação à depressão.

A vida social
Algumas situações sociais podem ser muito estressantes para pessoas mais frágeis. Uma alteração radical a nível financeiro pode provocar sentimentos de frustração, acompanhados de angústia e de estresse. Por sua vez, se a situação parecer insolúvel, este tipo de situação pode conduzir a uma depressão, mais ou menos grave.
Muitas vezes, o meio ambiente, o ruído, a sociedade, o frio ou a ausência de espaços verdes são fontes de estresse não reconhecidas e, como tal, não são combatidas. A velocidade, o ritmo de vida acelerado e as pequenas contrariedades do dia-a-dia (engarrafamentos, lentidão dos transportes públicos, pequenos fracassos, mal-estar físico passageiro, etc.), quando constantes, provocam um estresse que, repetido, acaba por se tornar muito difícil de suportar.
Caso seja preciso, não hesite em reorganizar o seu ritmo de vida, nem em abdicar de algumas atividades mais estressantes do que enriquecedoras. Por exemplo, você não é obrigado a sair de casa nem a receber amigos com muita freqüência. Encontre o número de horas de sono necessário para se sentir bem. Escolha, sem complexos, a solução supostamente mais fácil, desde que isso melhore o seu estado de ânimo ou as suas condições de vida. Naturalmente, não se trata de transformar estes conselhos numa regra de vida geral. Mas, em momentos difíceis, é melhor ir pelo caminho mais fácil do que levar ao limite as suas capacidades psicológicas.
Uma mudança de estado ou país ou uma pequena alteração acarretam grandes transformações na organização da vida cotidiana, que podem mesmo desestabilizar as relações conjugais ou familiares. As mudanças de escola ou de professores, que até são positivas, pois alargam o horizonte da criança, podem também provocar distúrbios psíquicos, como algum tipo de depressão.
Por último, é importante destacar a importância das relações sociais na vida de cada pessoa. O fato de se sentir só, de perder o seu lugar num grupo ou de não ter bons amigos são fatores que influenciam decisivamente o aparecimento de uma depressão. Embora a falta de relações sociais não possa ser considerada uma causa de depressão, não há dúvida de que ter amigos é um fator de reequilíbrio e de apoio num momento de crise. Como tal, é muito importante que nos atrevamos a ir ao encontro dos outros, que, muitas vezes, compreendem a situação e não a condenam, e que nos atrevamos, também, a abrir o nosso coração. Porém, convém lembrar que as relações sociais só são benéficas quando são flexíveis e calorosas. Cabe a cada um escolher os indivíduos com os quais se relaciona e, eventualmente, fazer uma seleção.

A dona de casa
Um caso muito específico e que está muito associado à falta de relações sociais – um certo isolamento social – é o da dona de casa. As estatísticas demonstram que estas mulheres sofrem mais episódios depressivos do que as que trabalham fora de casa.
Contudo, é difícil estabelecer causas e efeitos nesta questão. Será a dona de casa mais propensa à depressão porque o seu trabalho não é reconhecido pela sociedade e, por vezes, nem sequer valorizado pelo seu marido e/ou pelos filhos? Ou será a dona de casa uma pessoa mais ansiosa e perfeccionista, sendo estas características o motivo pelo qual não se atreve a lançar-se no mundo do trabalho, mais realista, mas também mais duro e exigente que o meio familiar? Neste caso, ficar em casa significa estar a salvo.
Deve-se salientar que a pessoa deprimida tenta evitar espontaneamente os contatos sociais. Só quer que a deixem em paz, já que não se sente capaz de se comunicar como desejaria e fecha-se na sua carapaça, o que só contribui para agravar o seu estado. É preciso lutar contra esta tendência. Está comprovado que os deprimidos que mantêm contato com os que os rodeiam permanecem integrados no seu meio social ou profissional e partilham a sua experiência num contexto de compreensão recíproca, no seio de um grupo de ajuda mútua (como, por exemplo, os grupo de auto-ajuda), conseguem uma recuperação melhor e mais rápida. Diante de situações mais ou menos parecidas com as suas, os seus sentimentos de angústia e de culpa tendem a atenuar.

Box 1

Depressão escondida: a mãe que se sente culpada
P. vai a um terapeuta para receber orientação em relação ao seu filho. Após muitas dificuldades, ele está prestes a repetir de ano. Só que, imediatamente, as dificuldades da mãe começam a revelar-se por trás das do filho.
P. regressou há oito meses de África, onde o seu marido era um profissional de sucesso. A mulher não gostava muito de viver lá, porque a vida era muito mundana e superficial. Mas, exteriormente, aparentava um comportamento ativo e dinâmico, que todos admiravam. Na verdade, P. ansiava o regresso a seu país, onde a esperava uma linda casa que o casal tinha mandado construir. Diante de sua insistência, o marido pediu demissão e voltaram definitivamente a seu país de origem.
Inicialmente, a mudança foi um sonho e a família adaptou-se bem. Mas a ilusão de P. desapareceu depressa, devido a todas as dificuldades que foi preciso enfrentar: a escolha da escola para as crianças, os deslocamentos muito longos, os preços elevados das atividades de lazer e das férias, etc. Com o tempo, a casa começou a lhe parecer desinteressante, bem como a sua vida, e as suas tarefas de dona de casa e gestora do orçamento familiar pareciam insignificantes. Oito meses mais tarde, quando decidiu levar o filho ao médico, teve de reconhecer que quem precisava de atenção era ela e aceitou de bom grado submeter-se a uma terapia.

BOX 2

As causas da depressão e dos distúrbios do sono, sejam passageiras ou crônicas, nunca estão isoladas. Mesmo as depressões provocadas quimicamente, pela ingestão de alguns medicamentos, têm sempre outros fatores causais, pois entra sempre em cena uma predisposição individual. Em outras palavras, a personalidade do paciente é um dos principais fatores de depressão. Os fatores psicológicos e biológicos são interdependentes e interagem constantemente.

BOX 3

A fadiga continuada é, com algumas variantes, o ‘disfarce’ (ou, dito de outra forma, o sintoma) mais freqüente da depressão. Se, pelo menos nas últimas duas semanas, sem razão aparente:

– lhe custa muito se levantar de manhã e se começa o dia com uma sensação de peso e fastio;
– lhe falta energia para realizar qualquer atividade cotidiana, como tomar banho, fazer a cama ou preparar as refeições;
– o fato de andar, subir escadas ou fazer esforço físico lhe é mais difícil do que antes;
– tarefas simples, como escrever uma carta, fazer uma ligação urgente ou manter um diálogo exigem de você um grande esforço…

…então encontra-se num estado de fadiga anormal. Se não tomar algumas precauções, é possível que esteja efetivamente deprimido ou em vias de o ficar. Se acha que não consegue retomar o controle da situação sozinho, não hesite em pedir ajuda.

BOX 4

Excesso de trabalho
C., um jovem engenheiro de 28 anos, trabalha há um ano numa pequena empresa para a qual foi contratado como responsável do departamento de produção. Uma responsabilidade enorme para uma pessoa tão nova, além de exigir um trabalho extenuante.
A personalidade do diretor, um homem que construiu a sua própria carreira, ambicioso e cheio de vitalidade, torna-se uma referência para o jovem. Inspirado e, ao mesmo tempo, pressionado pelo diretor, C. trabalha cada vez mais. Deixa de se interessar por outras atividades e torna-se obcecado pelo trabalho. Em contrapartida, dorme cada vez menos, anda irritável e começa a ter problemas digestivos.
Decide, então, consultar um médico. Após algumas perguntas, este percebe que o paciente está preso num conflito de rivalidade: o que pretende é demonstrar ao seu diretor que está à altura de desempenhar o trabalho para o qual foi contratado. Por ser ao mesmo tempo explorado e estimulado pelo seu chefe, C. chega à conclusão de que existe entre ambos uma relação ambivalente e ambígua. Apanhado nesse círculo vicioso de competição, C. reagiu, sem se dar conta, com uma fuga: o trabalho excessivo.
Graças à medicação apropriada para a gastrite e a insônia, bem como a oito dias de férias, durante as quais aproveitou para refletir sobre a relação conflituosa com o seu chefe, C. regressou à empresa. Pediu uma reunião com o diretor e esclareceu os acontecimentos. Voltou a praticar esportes e a se encontrar com os amigos, atividades que tinha abandonado. Quanto ao chefe, conseguiu estabelecer um tipo de relação à margem da força e da competição, tendo se organizado de forma a desfrutar de uma higiene de vida mais saudável. O fato de ter reagido a tempo e refletido sobre as suas dificuldades permitiu-lhe evitar uma descompensação, que poderia tê-lo conduzido a uma depressão.

BOX 5

Promoção envenenada
R. trabalha num banco há vários anos. Preciso e meticuloso, desempenha as suas tarefas com perfeição. Mantém boas relações com os colegas, que brincam carinhosamente com o seu perfeccionismo, e mantém uma vida equilibrada com a mulher e os dois filhos.
Um dia, lhe propuseram uma promoção inesperada. Embora inicialmente tenha ficado contente e orgulhoso, acabou por não se adaptar facilmente ao novo posto de trabalho. Custou-lhe assimilar as novas informações e sofria com isso, apesar de não dizer nada a ninguém. Ele, que dominava o trabalho anterior, sente-se agora ultrapassado. Depressa começa a ficar obcecado e a imaginar que os seus novos chefes percebem a sua lentidão e incompetência. Ao verem que está se afastando, os colegas pensam que o novo posto lhe subiu à cabeça e vão deixando de procurá-lo.
A partir daí, R. começa a trabalhar cada vez mais. Porém, em parte devido ao cansaço, o seu rendimento piora e ele passa a ter idéias fixas sobre a sua incompetência e a achar que não merece a promoção. Também começa a interpretar as faltas dos outros como um ataque direto à sua pessoa. Ao fim de dois meses, esgotado e com insônias devidas às suas obsessões, que o perseguem dia e noite, R. consulta um médico. Este lhe diagnostica uma depressão e prescreve um tratamento antidepressivo.
R. só se recuperou um mês depois. Seis meses mais tarde, submeteu-se a uma psicoterapia, que o ajudou muito a suavizar a sua natureza ansiosa e perfeccionista. Esta necessidade de perfeição não era mais do que uma barreira que o protegia contra a angústia de se sentir ‘inferior’. Durante anos, tinha mantido essa angústia difusa sob controle. Mas, devido à sua promoção, R. não conseguiu dominá-la mais e a angústia ressurgiu. Embora a situação fosse muito positiva, era nova e, como tal, estressante.

BOX 6

Burnout
P. é médico num serviço de clínica geral de um grande hospital. Todos os dias atende entre cinqüenta e sessenta pacientes. O volume de trabalho não lhe permite realizar uma verdadeira entrevista com cada paciente, como desejaria. À medida que esta situação se prolonga, o estresse aumenta.
Quando decidiu enveredar pela medicina, as suas expectativas quanto à relação médico-paciente eram muito diferentes das que mantém atualmente. Do total das suas consultas diárias, a maioria diz respeito a assuntos menores (gripes, gastrenterites, etc.). Mas ele teme que 2 a 3% dos casos se tratem de doenças sérias e que, no meio de todas as outras situações, possa fazer um diagnóstico inadequado. Viver este sentimento de insegurança diariamente lhe provoca alterações no ritmo do sono e um nível elevado de angústia, bem como dúvidas sobre a sua capacidade profissional. P. recorre à psicoterapia, exausto por um mal-estar incontrolável.
Durante o processo terapêutico, tenta separar o que depende apenas dele do que depende da instituição na qual trabalha. As características da sua personalidade, como a necessidade de segurança e controle sobre as situações que vive, a possibilidade de prever o que irá acontecer na jornada de trabalho e desenvolver sua atuação de acordo com a idéia que faz do que é ser médico, manifestam-se, formando parte do problema.
A forma de desenvolver o seu trabalho de maneira diferente converte-se no objeto da psicoterapia. Por exemplo, colocar-se no lugar da pessoa que vai à consulta. Compreender que nível de angústia pode provocar um trâmite burocrático. Como ajudar do ponto de vista médico, favorecendo hábitos de saúde nas pessoas que vão às consultas por questões triviais. Aceitar que, no seu trabalho, não pode controlar o número de pacientes que irá atender já que, apesar de a instituição tentar restringir a procura, através do sistema de consulta prévia, há sempre um número de pessoas que vão ao médico por um assunto inadiável.

Box 7

Depressão num casal: fidelidade em questão
Um casal de professores, A. e M., vai a um terapeuta, por não conseguir superar uma crise. Trata-se de um casal de cerca de 40 anos, com três filhos e uma vida profissional satisfatória. Até agora, as diferentes crises por que passaram não foram muito graves, uma vez que o casal dialoga bem. Além disso, partilham muitos pontos de interesse, como política, filosofia e arte.
No entanto, um dia, o marido começa pouco a pouco a questionar o valor e a razão de ser da fidelidade no casamento. Isso o leva a uma aventura extraconjugal, que revela à mulher depois de terminada. M. fica muito afetada com a notícia, embora A. considere a sua aventura como uma experiência sem importância, de modo algum perigosa para a estabilidade do casal, já que os seus sentimentos pela mulher continuam os mesmos. Mas, para M., trata-se de um fracasso estrondoso. O que até pode admitir intelectualmente nos outros, torna-se extremamente doloroso para ela, mesmo que tente compreender a experiência do marido e as suas explicações.
Na realidade, o que M. viveu no momento da revelação tratou-se de um desmoronamento da referência e da imagem que tinha do marido; imagem provavelmente idealizada, na qual ele aparecia como alguém muito sólido e de convicções inabaláveis. Em nenhum momento M. percebeu a defasagem que existia entre a imagem que tinha do marido e a forma como ele via a si mesmo. No fundo, A. é uma pessoa inquieta, ansiosa e insegura.
Após a experiência, A. e M. retomam o diálogo e o ampliam a temas que, até então, nunca haviam abordado. A crise teve esse efeito positivo na relação. Contudo, também deixou em M. um grande sentimento de insegurança, que começou a pôr em questão o seu próprio valor. Isso a conduziu a uma profunda reação depressiva, que surpreendeu o marido. Este sempre a considerou uma pessoa forte, aberta, informada e experiente. Os dois se vêem, então, presos num círculo vicioso: ele se sente muito culpado pelo seu deslize e pelo dano que provocou à mulher, ficando deprimido. Nesse momento, é a mulher quem o consola e tranqüiliza. Mas quando o marido começa a se sentir melhor, ela volta a entrar em depressão. Aí, decidem consultar um terapeuta.
Após algumas sessões de terapia conjugal, chega-se à conclusão de que A. e M. se escolheram mutuamente como companheiros num contexto conflituoso de luta contra as suas respectivas tendências depressivas. Cada um deles havia encontrado no outro um apoio considerável, que lhes permitia manterem-se e valorizarem-se mutuamente. Isso explicava o motivo pelo qual a sua vida como casal havia decorrido pacificamente até então. A terapia lhes revelou uma realidade diferente e cada um teve de aprender a enxergar uma imagem mais realista e também mais humana do outro.

Box 8

Depressão por isolamento social: a jovem dona de casa
C. é uma jovem de 29 anos, licenciada em Química e casada há cinco anos com um colega da universidade. Este decide fazer doutorado, exigindo que o casal se instale na Suíça logo após o casamento.
A jovem, até então apaixonada pelos estudos e tendo desfrutado da vida animada e agradável do ambiente universitário, vê-se, de repente, sozinha, sem trabalho e sem amigos. Passa, nesta altura, pelo seu primeiro episódio depressivo.
O casal depois regressa ao seu país de origem, onde fica durante dois anos. Nesse período, eles têm dois filhos e, depois, se mudam para os Estados Unidos. Mais uma vez, C. não consegue se adaptar à nova vida: se vê obrigada a levar o marido para o trabalho de carro diariamente, ele está absorvido pelas responsabilidades do seu novo emprego e ela tem de cuidar dos filhos pequenos, já que o casal não pode se dar ao luxo de colocá-los numa creche. O fato de, pela segunda vez, se ver separada das suas amizades lhe é muito sacrificante.
De volta novamente ao seu país, C. arranja trabalho como professora de Química num colégio muito conceituado e rígido. Embora os alunos a aceitem sem reservas, C. entra imediatamente em conflito com a disciplina repressiva da instituição: o diretor exige aulas mais sérias e o uso de roupas menos despojadas.
C. não aceita bem estes comentários, sobretudo porque desempenha seu trabalho com grande profissionalismo. Quando percebe que os outros professores também se mostram distantes, C. sente-se ferida e começa a fazer perguntas sobre si mesma. Assim, volta a cair numa depressão, que a leva a consultar um psicólogo.
Graças à terapia, C. ganha pouco a pouco consciência da origem das suas dificuldades quando é preciso se afirmar. De fato, educada por pais muito exigentes, perfeccionistas e sempre insatisfeitos, a jovem preferiu nunca tomar iniciativas, para não correr o risco de ser censurada. Sonhava em ser o contrário da sua mãe e seguir uma carreira que lhe permitisse conhecer um mundo mais amplo e interessante.
O que realmente provocou a descompensação foi voltar a se encontrar num sistema de disciplina rígida, parecido com o que havia conhecido na casa dos pais, bem como se deparar pela terceira vez com a ausência de relações sociais positivas e calorosas.

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