sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Acesso de raiva. É possível evitar?


O executivo procura uma pasta contendo documentos importantes, mas não a encontra. Consulta uma funcionária e ela explica que a secretária, recém-demitida, guardara em algum lugar, mas que ninguém sabe. Os documentos são importantes, porque significam a memória viva da firma, são, por isso mesmo, importantíssimos.Sem perceber a importância, a funcionária insiste em minimizar a situação, então o empresário acaba explodindo, sem conseguir conter a indignação, transformada, imediatamente em raiva.Afinal, quem nunca se sentiu no limite, a ponto de explodir por qualquer motivo? Nessa hora, o coração dispara.Mas o ideal, como em quase tudo na vida, é o equilíbrio. Segurando as rédeas de nossas emoções, nos tornamos mais intuitivos, sagazes. Passando a usar a sensibilidade a serviço do sucesso, fazendo dela uma arma poderosa. Em contrapartida, o excesso de tensão, típico dos temperamentos instáveis, bloqueia a capacidade de compreender, e dificulta a resolução dos problemas mais banais.Existe o contraponto ao temperamento do empresário que explode porque uma pasta com documentos importantes simplesmente sumiu. É o da funcionária, que não se contém e chora, enxugando as lágrimas com um único lenço encontrado no fundo da bolsa. Encosta a cabeça nas costas da poltrona da frente para não afogar as lágrimas nos ombros do colega ao lado. Tudo isso além da reprovação dos outros colegas, irritados com os suspiros e soluços.Tudo bem. Você seria insensível se não derramasse uma lágrima sequer assistindo ao filme. Mas chorar diante de um quadro, ao ouvir determinada música, com um anúncio de TV ou ao cruzar com aquele mendigo que corta seu caminho todas as manhãs, fazendo-a sentir-se culpada pelo resto do dia, mesmo que jamais dê uma esmola. Isso pode ser excessivo.“Coisa que antes eram consideradas de fontes de alegria, como casa, marido, filhos, amigos e trabalho, passam a ter um peso insuperável, lamenta a empresária Júnia, 36 anos, casada e que sofre de instabilidade afetiva (designação equivalente para a hipersensibilidade) há três anos. Ela conta que não consegue assistir a uma cena “mais forte” na televisão - e não está se referindo à guerra no Iraque - sem desabar. Uma situação “normal”para a maioria das pessoas pode representar um rio de lágrimas para Júlia: “Pareço uma criança, me sinto ridícula”.Para a psiquiatra e psicanalista Evelyn Vinocur, em linguagem científica, o mal de Júlia tem uma causa: labilidade afetiva. Ou seja, instabilidade afetiva, que se caracteriza por rápidas mudanças emocionais em questão de minutos, ou até segundos. Doença/ frescura? A fronteira entre os dois lados é sutil. Cada caso é singular. Mas sempre que houver prejuízo na qualidade de vida é preciso agir rápido.Uma das alternativas para se sentir melhor é surfar sobre as emoções como se surfa sobre as ondas. Relaxe, conte até 10, tente tomar consciência da confusão (angústia ou alegria) que a domina, e questione a gravidade da situação. Respire calmo e profundamente. Diga para si mesmo que você e quem detém as rédeas das próprias emoções, e não o contrário.Aquele que deveria ser o melhor aniversário de Larissa foi o mais lamentável. Na festa de seus 30 anos, ela causou um grande mal-estar. Mirian, sua melhor amiga, convidou, sem avisar, 20 antigos colegas de colégio, para que cantassem “Feliz Aniversário”. Os pobres coitados se transformaram em uma turma a ser evitada dali para a frente. Ficaram constrangidos com sua fuga intempestiva para o quarto. A surpresa desmoronou-a.Neste tipo de situação, as pessoas muito sensíveis são tomadas por uma “diarréia emocional”. A barragem que retinha as emoções é rompida e todo cuidado é pouco para evitar uma inundação.Marianna, de 18 anos, nunca suportou o novo. Era tomada por um sentimento de apreensão, taquicardia e enrubescimento sempre que era abordada por um rapaz nas festas. Isso também acontecia quando era submetida a uma avaliação, qualquer que fosse. “Tinha uma sensação de congelamento. Parecia que as pernas estavam congeladas, bem como a mente. Ficava boba, sem reação”, conta.Ela não conseguiu concluir o exame do vestibular. Passou mal antes de responder a todas as questões e acabou reprovada. A psiquiatra Evelyn Vinocur acredita que Marianna sofre de ansiedade social. Um transtorno que gera a sensação difusa e desagradável de apreensão que precede qualquer compromisso social novo ou desconhecido. “A pessoa tem a consciência dos sintomas físicos e percepção de estar nervosa diante de uma situação social. Tal sentimento é paralisante e fonte de intenso sofrimento”.Casada, feliz, dois filhos, toda vez que passa o domingo na casa dos pais, Andréa reage a qualquer observação deles aos gritos. A mãe arrisca uma opinião sobre a aparência das crianças, do tipo “elas não estão um pouco magras?” A resposta é uma torrente de desaforos. Ou seja diante de qualquer comentário irritante, seu grau de tolerância é zero, o que faz uma adolescente de 14 anos parecer mais adulta e equilibrada do que ela. É normal ficar irritada com os pais. A relação com eles parece um jogo de guerra: comenta algo, eles replicam, contra-atacam As emoções ficam ainda mais fortes se estiverem condicionadas a lembranças passadas. Em resumo, aos cinco ou 35 anos, as pessoas continuam a sonhar com os pais ideais e ficam irritadas quando não correspondem às suas expectativas. Mas é preciso crescer, perdoar...Mas o primeiro passo para resolver o problema é afastar a idealização. Não esperar nada. Em vez de chegar a casa deles com a esperança que tenham mudado, afirmar a si mesma que tudo vai começar, ainda e sempre. Não adianta tentar. Tente, sim, ter uma visão estratégica, que consiste em antecipar reações. Isto é fácil porque são sempre as mesmas. Use uma tática diferente; se eles dizem alguma coisa, faça um comentário gentil, capaz de desarmá-lo. Desarme-se também.Não confunda as situações descritas com as que ocorrem somente em períodos de ansiedade, depressão, inquietude, falta de sono e disfunção sexual, que fazem parte da vida de todo mundo. Quem, por exemplo, não passou por uma enorme dor-de-cotovelo ou teve vontade de sumir do mapa depois de uma discussão séria?Fatores como insatisfação no trabalho, brigas familiares, separação, dificuldades financeiras, alterações hormonais interferem no bem-estar.Vários são os fatores em que a pessoa busca seus próprios recursos internos para manter o equilíbrio. Se você é uma delas, ótimo. Esse é o caminho. Mas se não consegue melhorar sozinho, não hesite em procurar um especialista. O diagnóstico preciso já representa um ganho de 50%, no tratamento, que pode ser através de psicoterapia, acupuntura, florais - para quem prefere alternativos.Só não pode é sofrer à toa. Ninguém merece, afinal.

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