domingo, 2 de novembro de 2008

Entre tapas, beijos e conflitos matrimoniais, na família com TDAH


O casal foi feliz por 4 anos. Ou melhor, por 4 anos e 9 meses. Justamente aí nasceu o Breno, e com ele, veio a desagregação e a discórdia, palavras da mãe do Bruno.
Ele sugou tudo de mim, dra, tudo, ele chorou por quase 2 anos sem parar. Vivia pulando de colo em colo. Só cochilava se a gente o ninasse forte. Eu e o meu marido nunca mais vivemos uma para o outro. Durante esses 4 anos de casados, éramos uma família, agora somos loucos enraivecidos, perdidos na selva da minha casa. Eu fico desesperada, ele é igualzinho a mim, eu era assim, igualzinha a ele. O Breno com 5 anos já tinha sido expulso de 2 creches, não acompanhava a turma, só vivia batendo e empurrando os colegas. Eu não entendo: ele quer tudo na hora, do jeito dele! Senão fica um bicho raivoso!! Não aceita um não como resposta. Fica suplicando o que ele quer até eu surtar e deixar o que ele quiser... ele não para de repetir as mesmas frases, a gente não agüenta, fazemos o que ele quer, porque senão nós vamos fazer uma besteira.
Ele era tão lindo, um anjinho!! Por breves segundos o Breno dormia bem, mas até isso ele perdeu, hoje ele dorme muito mal. Eu me sentia tão mal, ele nunca ficava bem no colo. Parecia que eu nunca soube pegá-lo no colo, ele nunca ficava à vontade. Nunca me imaginei vivendo esse inferno. Meu Deus...
As histórias se repetem. Não muito diferentes umas das outras. O casal não agüentou o Breno e numa das discussões violentas com agressão física, Breno quis ir morar com um amigo mais velho. Mas os pais não queriam saber, estavam aliviados com o afastamento do filho. E o Breno ficou a deriva, ficou solto nas ruas, passou a cheirar e fumar. Com o tempo, passou a traficar. E a gente pode imaginar como a vida ficou dramática e perigosa para o Breno...
Como não poderia deixar de ser, quando nos deparamos com casos como os do Breno, vemos que a vida sexual do casal desmorona, o clima de respeito, carinho, amor e companheirismo vai para o espaço e só fica lugar pra raiva, culpa, vergonha, vontade de morrer e de sumir... “O que você fez na cabeça desse garoto para ele ficar assim?” essa coisa de um culpar o outro, isso é toda hora. Marido e mulher embrutecem, passam a ter raiva do mundo e fogem de todos, e aos poucos, todos fogem deles também... e família termina completamente difamada, humilhada e literalmente isolada do seu contexto, familiar e ou dos amigos.
Os divórcios e separações são a tônica da questão, com os pais ficando desencorajados, deprimidos, se achando as piores pessoas do mundo.
Vou transcrever um pedacinho da primeira sessão do Breno comigo:
Mãe:
- Doutora, eu imploro, me ajude, eu não sei mais o que fazer. Dentro de casa é só tensão, discussão, meus filhos competem o tempo todo, o barulho lá em casa é total, infernal...
Pai:
- Doutora, eu sou nervoso, vou explodir. Me dá um remédio, há uns anos eu tomei anafranil, melhorei, mas parei o remédio e agora eu estou agressivo, não agüento mais, vou explodir e ele olha para a mulher.
Dra.:
- a sua esposa? Você não agüenta mais a sua esposa? Porque?
Pai:
- ela não faz nada, nada, é muito nervosa, agressiva, eu me sinto muito explorado. E o meu filho, eu não sei o que fazer... só tenho vontade de sumir, largar tudo ou então matar todos eles e depois me matar, estou desesperado...
Filho1:
- Dra, eu quero dirigir, eu posso? Eu juro que não fujo mais, que não vou mais pro morro atrás de droga...
Dra (ignora a fala do filho1)
- mãe, como é o seu dia? Como é isso que ele está falando que você não faz nada?
Mãe:
- eu não sei, doutora, não tenho animo, não tenho vontade de nada, as vezes eu estudo com os meninos, mas a verdade é que eu tenho uma empregada que faz as coisas pra mim, porque, eu não não gosto de fazer nada.... chorando muito. Eu sou um peso morto. Vivo pedindo a Deus que me leve desse mundo, que pra mim é um verdadeiro inferno, um martírio...
Filho 1:
- Dra., eu fui espancado a vida toda. Espancado cruelmente, doutora... os olhos fechando, meio dopado, pois já veio medicado ao consultório. Meu pai chegava mamado todos os dias e puxava o cinto e me torturava, me xingava dos piores nomes... Dra., a sra acredita em mim?
Pai: eu batia muito nele, doutora, mas agora não bato mais, ou melhor, bato menos agora, ...
Filho 2:
- Pior sou eu, Dra., que nem existo para os meus pais. Sou negligenciado e abandonado pelos meus próprios pais, essa família é louca! Ninguém se entende! Todo mundo só sabe berrar e bater! Esse cara aí, se referindo ao irmão doente, só veio ao mundo pra trazer o inferno pra nossa casa. Ele é um pesadelo dentro de casa. Eu só vejo uma saída pra mim, que é a de sair da minha casa.
Filho 1:
- Doutora, por favor, eu posso namorar, posso dirigir? Eu fico bonzinho, eu juro... Dra., a sra. Deixa eu sair, né? Ninguém acredita em mim, diz ele chorando como um menino de seis anos.
E o restante desta interminável consulta foi desse mesmo jeito. Todos falando ao mesmo tempo, a ponto de enlouquecer o terapeuta. Nesses casos o terapeuta precisa ter muita prática e impor todo o seu respeito e limites nos pais e no paciente. Regras rígidas precisam ser colocadas e implementada na família.

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